quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

RECEITA DE ANO NOVO

“RECEITA DE ANO NOVO”, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE:
 
“PARA VOCÊ GANHAR BELÍSSIMO ANO NOVO
COR DO ARCO-ÍRIS, OU DA COR DA SUA PAZ,
ANO NOVO SEM COMPARAÇÃO COM TODO O TEMPO JÁ VIVIDO
(MAL VIVIDO TALVEZ OU SEM SENTIDO)
PARA VOCÊ GANHAR UM ANO
NÃO APENAS PINTADO DE NOVO, REMENDADO ÀS CARREIRAS,
MAS NOVO NAS SEMENTINHAS DO VIR-A-SER;
NOVO
ATÉ NO CORAÇÃO DAS COISAS MENOS PERCEBIDAS
(A COMEÇAR PELO SEU INTERIOR)
NOVO, ESPONTÂNEO, QUE DE TÃO PERFEITO NEM SE NOTA,
MAS COM ELE SE COME, SE PASSEIA,
SE AMA, SE COMPREENDE, SE TRABALHA,
VOCÊ NÃO PRECISA BEBER CHAMPANHA OU QUALQUER OUTRA BIRITA,
NÃO PRECISA EXPEDIR NEM RECEBER MENSAGENS
(PLANTA RECEBE MENSAGENS?
PASSA TELEGRAMAS?)

NÃO PRECISA
FAZER LISTA DE BOAS INTENÇÕES
PARA ARQUIVÁ-LAS NA GAVETA.
NÃO PRECISA CHORAR ARREPENDIDO
PELAS BESTEIRAS CONSUMIDAS
NEM PARVAMENTE ACREDITAR
QUE POR DECRETO DE ESPERANÇA
A PARTIR DE JANEIRO AS COISAS MUDEM
E SEJA TUDO CLARIDADE, RECOMPENSA,
JUSTIÇA ENTRE OS HOMENS E AS NAÇÕES,
LIBERDADE COM CHEIRO E GOSTO DE PÃO MATINAL,
DIREITOS RESPEITADOS, COMEÇANDO
PELO DIREITO AUGUSTO DE VIVER.

PARA GANHAR UM ANO NOVO
QUE MEREÇA ESTE NOME,
VOCÊ, MEU CARO, TEM DE MERECÊ-LO,
TEM DE FAZÊ-LO NOVO, EU SEI QUE NÃO É FÁCIL,
MAS TENTE, EXPERIMENTE, CONSCIENTE.
É DENTRO DE VOCÊ QUE O ANO NOVO
COCHILA E ESPERA DESDE SEMPRE.”
QUE 2010 VENHA, PORTANTO, NOVO.
 

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Dr. Hardman e o Heavy Metal

Quando eu era criança, meus pais compraram nosso primeiro tocador de CD. Era a "tecnologia do futuro" chegando em nossa casa, com pilhas de discos dos '70 e '80.

Mas por muito tempo só tivemos três "cedês": dois dos Beatles (A Hard Day's Night e Yellow Submarine. Até hoje uso "Hey Bulldog" como trilha de terror urbano) e um do melhor de Paul Simon e Grafunkel.

Não me lembro de meu pai ser particularmente fã dele. Mas eu adorei - talvez por ser vinculado a essa tecnologia inovadora e falta de opção. Gostava também dos Beatles, mas à medida que aprendia inglês cometi o erro de traduzir as letras. Beatles, no seu contexto, é um breguinha com uma balada melhor. Mas Simon & Grafunkel (S&G para resumir) tinham letras poéticas, contavam histórias e faziam jogos de palavras (em "El Condor Passa).

E então, eu ia para a escola, não raramente com alguma das músicas na mente. Era uma época feliz, e eu cantarolava uma delas. Nesse fatídico dia, eu estava cantarolando "The Boxer". Minha professora de História, Sheyla, flagrou. Então me perguntou: "Você é fã da Roberta Miranda, Leonardo?"

Isso se espalhou. De um adorador de tecnologia e de S&G, recem-introduzido ao idioma anglo-saxão, era fã da rainha dos caminhoneiros. Era mais duro justificar na época pois a mania de "embregar" músicas clássicas em inglês era novidade.

 É o equivalente hoje se vocês me flagrassem escutando Fresno. (talvez menos emasculado).

Vai ver que por isso me desenvolvi tardiamente como apreciador de música. Não ia a shows quando era mais novo (mesmo hoje em dia resisto muito a ir). Mas meu relógio biológico se aproximava da adolescência rebelde. Cedo ou tarde iria começas a ouvir Heavy Metal.

Mesmo hoje em dia eu curto quando tem mais melodia, a letra tenha algum trabalho. Não me visto de preto, não uso espigões e correntes (fora de live actions), nem berro inaudivelmente preces indecifráveis a Chutullu. Mas o incidente S&G se repetiu pelo menos duas vezes:

1 - Uma vez, de carona com meu irmão para a faculdade, ele toca uma fita do MANOWAR. "The power of Ty Sword", "Carry On", "kings of metal", "The demon Wimp"... Era o equivalente musical a um baita filme de ação!
 Copiei a fita e ouvia sempre que podia. Mas aí passei a comentar aos meus amigos mais descolados que tinha me tornado fã desses caras!
 Devia ter percebido risadas contidas. A internet não era tão acessível assim, e fui pesquisar sobre eles. Vi de cara a capa, o grupo de bombadonas em sungas de couro.
 Encolhi-me na cadeira de vergonha. Desta vez nem poderia alegar que perverteram meus ídolos como Roberta Miranda fez com S&G. Mas é que nem o Twister Sisters: ouça e ignorem que se trata de, como disse o @azaghâl: Travecos medievais from hell!

2 - Já na época de Meliny, quando escrevi a trilogia "O Demônio Interior", eu tinha já na mente a trilha sonora: ANGRA e SHAMAN!
 Como de costume, eu adquiri o CD sem saber quem era. Fiquei surpreso de saber que era uma banda de Heavy Metal brasileira que não devia nada às estrangeiras. Na capa não mostrava nenhum dos integrantes, mas perguntei a meu irmão se eram algum traveco do metal ou coisa que pudesse me constranger no futuro. Ele disse que não. Acho que me tranqüilizei, porque isso bastou.
 Meu irmão se profissionalizou envolvendo-se com shows (Começou com o lendário Punka, depois o Coverama, o Derrota Fantasy...) e ficou envolvido com um evento: trazer o Shaman a Aracaju!
 Eu ainda era muito careta na época, optei por "ficar na beirada" e conseguiria entrar sem dificuldades. Mesmo se não o fosse, poderia pagar meu ingresso. Nunca fui tiete. Mas queria aproveitar essa oportunidade única, com a discrição que meu caretismo permitia.
 Estávamos reformando a casa na época, e a família estava hospedada numa pousada. 5 pessoas num flat para 2 era meio favelão, e usávamos a área comum para tudo. Eis que encontro meu irmão falando com um jovem alto, magrelo, cabelo enrolado, óculos. Ele chega e diz: Leo, esse é o André Matos, daquela banda que você gosta.
 Eu revejo mentalmente a cena e ainda me irrito comigo mesmo. Aquele era o visual anti-metal! Mesmo sem nunca ter visto o ilustre (não aprendi com o incidente anterior), era para suspeitar. Mas sei lá, não queria parecer um careta que não conhece seus gostos. Cumprimentei e enfatizei que era fã mesmo. Falei até da Carry On, minha favorita (e coincidentemente o Manowar tem uma música honônima. Era o destino).
 E lá se vão os dois a rir de mim.

 Tá, conheci a banda e paguei uma coca-cola pro verdadeiro André Matos na tarde de autógrafos no Jardins.
 Foi uma pena que o show foi muito mal divulgado e não deu muita gente... Mas pensando bem foi melhor assim, já que os "cabelos-de-chicote" se concentraram num canto do palco e eu vi ao vivo um show quase particular. Inclusive a Carry On, que o público insistiu.

Well, O Derrota vem aí, e eu fiquei de acompanhar o Massacration. Vou memorizar os nomes e rostos da trupe. Chega de metal-mico!

PS: agora que fiz a revisão acho que este texto é um novo mico. Sei que vou me arrepender ao clicar "Save & Publish" Mas dane-se.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

RONALDO!

Jovens bêbados atacam homens vestidos de mulher sem saber que eram lutadores

Homens estavam de vestido, peruca e salto alto quando foram atacados.
Depois de apanhar, dupla de brigões foi presa e condenada.

Dois arruaceiros bêbados atacaram o que eles pensaram ser dois travestis, mas acabaram apanhando das vítimas. Os homens escolhidos para a briga eram, na verdade, dois lutadores vestidos de mulher.

De acordo com reportagem do jornal britânico "Daily Mirror" Dean Gardener, de 19 anos, e Jason Fender, de 22, provocaram os dois homens com perucas, saias e sapatos de salto alto que passavam pela rua em Swansea, no País de Gales.

Câmeras de segurança flagraram o momento em que Gardener agrediu um deles. Em poucos segundos, os dois apanharam de James Lilley, de 22 anos, e Daniel Lerwell, de 23, lutadores de vale-tudo que estavam indo para uma festa.

"Assim que eles passaram por nós, um me disse 'Belo vestido, gay'. E, então, me deu um soco. Ele foi para o chão dois segundos depois", contou James ao "Daily Mirror".

Depois de derrubar os dois e distribuir alguns socos e chutes, os lutadores pegaram uma bolsa que havia caído no chão e seguiram para a festa. "Eles pegaram os caras errados naquela noite", concluiu Daniel.

Pouco antes de atacar os lutadores, Gardener e Fender haviam se envolvido em outra briga na rua. Segundo o advogado deles, ambos estavam sob efeito de álcool. A dupla foi condenada a quatro meses de trabalhos comunitários e está sendo monitorada diariamente.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Não repassem este e-mail!


Todo o dia nos últimos 2 anos eu precisei acompanhar o DDSMS – Diálogo Diário de Segurança, Meio-ambiente e Saúde (sim, a sigla é estranha). Eu não gostava porque 90% dos diálogos era sobre o uso de ferramentas pesadas e transporte de cargas e EPI – que não constam de minhas atividades. Os 10% restantes falam de coisas holísticas (que eu odeio com todas as minhas forças), os de descrição de acidentes (e igualmente não são de minha alçada, fora a satisfação sádica dos dialoguistas em mostrar cadáveres, pedaços decepados e queimaduras), uns sociais (no qual eu tive a pachorra de ler “Me Chute” para meu supervisor ), um ou outro sobre segurança no escritório (que pode me afetar, mas são raros) e enfim, os que deveriam ser mais amplos e importantes: Os de saúde.

Falam sobre hábitos alimentares, perigos em abusos de remédios e etc. É muito chato, mas eu vejo um fim social amplo nele. Melhor do que como marretar um túnel de gás, de como virgem com ascendente em gêmeos reage à máquina de cópia, ou virgem após martelar de forma errada um tubo de gás terminando esquartejado e carbonizado.

Mas hoje não resisti: Eles postaram o link abaixo na tela, leram para nós e recomendaram, com reverência papal que seguíssemos:

http://www.saudeintegral.com/artigos/beba-agua-com-o-estomago-vazio.html

Só enfatizando: Os japoneses fazem isso, e cura-se câncer e Diabetes em 180 e 30 dias, só bebendo água pela manhã!

Não havia nenhuma referência médica no texto original (fora que “é prática comum no japão”). Eu, graças ao todo-poderoso Google, acabo de saber que a autoria é de Suzete Barreto, uma [sic] Naturopata, Iridóloga e Instrutora dos Exercícios Visuais. Com todo o respeito aos nobres naturopatas, mas não vejo nenhum CRM associado a esses títulos, nem menção a algum instituto médico capaz de corroborar sua afirmação, ou valores estatísticos de monta.

Se bem que para curar câncer com água eu ia querer ver uma carta de canonização!

E claro, no final do texto lido, tinha a instrução “repasse aos amigos”.

NÃO! Por favor NÃO REPASSEM! (Especialmente você, Gama!)

Não repasse a seus amigos quaisquer informações milagrosas que pegue na internet! É extremamente cruel chegar para um paciente com câncer e dizer que os anos de sofrimento nas mãos da quimioterapia são inúteis, e que ele só precisa tomar dois copos de água em jejum! Há pessoas que acreditam nisso! Ou que não acreditariam em seu juízo normal, mas no desespero de ver sua saúde arruinada e vida ameaçada tentam qualquer coisa!

Revoltou-me muito ver esses sites sendo usados como material didático de SMS. A medicina é a profissão daqueles que buscam salvar e qualidade de vida! Há procedimentos necessários para colocar qualquer coisa em prática, mesmo que o copo de água em jejum não seja maléfico per se, mas afirmar que vai curar diabetes em 30 dias e câncer em 6 meses é ofender às pessoas que sofrem dessas mazelas. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Charles Chapling in The Matrix




Matrix é um daqueles filmes que marcou época por usar e abusar de tecnologia de ponta, então é complicado imaginar como ele seria se tivesse sido feito algumas décadas antes, mais precisamente quando o cinema ainda era mudo, preto e branco e tortadas na cara ainda eram consideradas engraçadas.

Mas, por incrível que pareça, esse Matrix dos anos 1930 provavelmente seria um ótimo filme, como prova a versão do grupo russo Bolshaya Raznitsa:

#AUDIO[Inglês] Astros de Star Treck reencenam clácicos de ficção

A Guerra dos Mundos & O Mundo Perdido - pelos astros de Star Treck

PARTE I - A Guerra dos Mundos

   

PARTE II - O Mundo Perdido

   

terça-feira, 10 de novembro de 2009

2 casos, 1 Youtube

 Geisy, estudante de turismo, foi para a faculdade com trajes sumariamente curtos. Definitivamente inapropriados para ambientes mais formais como (deveria ser) uma faculdade.

Mas a turba se juntou, a chamar de “Puta” ou coisas do gênero, mantendo-a por quatro horas em cárcere privado até a chegada de reforço POLICIAL!

A faculdade, dividida entre a causa de uma aluna e uma centena de pagadores de mensalidades, optou por expulsar Geisy. Era o que pesava menos no bolso...

... Até o vídeo tomar o Youtube de assalto. A opinião pública caiu em cima da decisão, e agora, Geisy tinha a seu lado a mídia, e a publicidade negativa que condenaria mensalidades presentes e FUTURAS. Voltando atrás com sua decisão.

Outro caso: Ana Flávia, médica, recém-casada e indo para a lua-de-mel por algum motivo que só cabe a ela dizer chega atrasada no aeroporto (contrariando a instrução de chegada com 2 horas de antecedência). A aeronave estava ainda no pátio, mas ela não compreendia que o procedimento de pressurização, bem como o controle de rota, as vultosas multas que a companhia aérea recebe quando seus vôos não decolam no horário programado, e o horário das cem demais pessoas no interior da aeronave (e que chegaram no horário).

Claro, ignorando tudo isso, frustrada com a nave parada na pista, ela poderia correr á Infraero e pleitear com quem tenha qualquer autoridade sobre a nave. Seria difícil isso acontecer, iria prejudicar todo o procedimento supracitado, e aquele que cedesse a seus apelos provavelmente sairia demitido naquela tarde mesmo... Mas tinha chance de funcionar!

Mas o que fez essa jovem portadora de diploma da mais disputada cadeira de qualquer universidade? Atacou o atendente do balcão. A menor autoridade na hierarquia depois do jardineiro, do faxineiro e do vendedor da banca de revistas do aeroporto Santa Maria.

Sensibilizando-o a sua causa? Subornando-o? Não. Ofendendo-o. Como profissional incompetente que ele era por fazê-la perder o vôo? Não. Por ser PRETO E POBRE! Ela salta o balcão, quebra computadores (afinal, ele não ia precisar deles para parar o avião, ou ia?) senta-se na esteira e abre fogo com injúrias contra o servidor na base da cadeia de comando de uma operação de vôo. Nisso, uma multidão entretida surge, e no meio destes, um celular com câmera de vídeo.

Este caso pytonesco chega à delegacia. Não um assalto, homicídio, pessoa desaparecida. Chega ao delegado um bate-boca no aeroporto. Segundo testemunhas só piora na delegacia: A frase “Se você chegar a meu pronto-socorro eu te deixo morrer!” teria sido proferida pela médica, que não só ignorou, como defecou sobre o juramento de Hipócrates. Vamos dar o benefício da dúvida da veracidade deste evento (não por não acreditar nele, mas por ser desnecessário ante ao exposto).

Os oficiais olham o caso, ninguém morreu. A ofensora não é (no campo prático) uma ameaça à sociedade, com pais abastados o suficiente para galgar-lhe educação de nível superior e provavelmente com dois advogados no dial do celular. Do outro lado, um ... PRETO E POBRE. Decide ignorar o flagrante crime de racismo (Não por ser inafiançável como um órgão de imprensa mencionou: porque foi apreendido no momento em que as injúrias ocorriam. Alias, elas prosseguiram até a delegacia!), a evidência gravada por um dos muitos fãs de barracos na cidade. Deixe que o judiciário cobre ressarcimento do prejuízo. Os grandes brigando.

E eis que o curioso fã de barracos decide compartilhar a pérola flagrada com seus 30 mil amigos íntimos do youtube. A opinião pública é chocada com a atitude da jovem médica e com seu desfecho. Movimentos Sociais são acionados, órgãos públicos movem suas engrenagens para mascarar sua vontade de ignorar o evento. Mas mesmo se isso não ocorresse: Uma profissional liberal como a Ana Flávia tem agora seu nome e rosto vinculados a um incidente desprezível, de sentimentalismo. Isso lhe trará muitos problemas na profissão de médica (isso se ainda puder exercer, pois a ofensa ao juramento de Hipócrates é muito sério no campo médico).

Moral da história: Não hesite em usar o celular para filmar injustiças cometidas contra você.

Ou chame um advogado.

Taquí o meu cartão.

domingo, 8 de novembro de 2009

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Eu respeito os Narradores de RPG

Eu respeito os Mestres. Prefiro chamar de “Mestre” a “narrador” para enaltecer esse que precisa bolar com cuidado toda a diversão daquela tarde de sábado, por a cara a tapa, e ver seu trabalho desandar porque ao invés de pilotar aquela nave para ir do ponto “A” para o ponto “B” do cenário de jogo, um jogador explode as naves e espera miraculosamente um novo meio de transporte.
 Não falo por ter passado pelo menos 3/5 da minha vida RPGística atrás do escudo, pois estou cultuando na ótica do jogador. Foi pensando nas campanhas que eu cheguei a esta conclusão, e comecei a digitar aqui na esperança de se tornar um texto.
 Mestres que me aturam como jogador merecem aplausos. Eu sou um jogador difícil, pois eu sou bem egoísta no grupo. Eu vislumbro a campanha sobre eu e os outros caras que me acompanham... Não por ser mais poderoso que os outros (especialmente em D20. Nunca consigo um PJ com carreira). Mas uma coisa é certa: eu chego no horário, e se tiver bate-boca entre jogador e narrador, fico do lado deste último.
 E eu passei poucas-e-boas aqui, entre vampiro morto com bala envenenada (ver post sobre Doykod), precisar mudar o conceito do Edranoew porque o novo mestre queria seu personagem morto de volta (ver o “O Clube dos 5), Abandonar personagens que eu gostava por birra ou outros pretextos (ver post do Melekashiro) Ser um cainita vendo príncipes pilotando caças em plena nova yorque, preparar sereia para ir para o oceano e o mestre muda tudo para o interior de uma mina... Etc.
 Sim, não sou um bitolado e sei diferenciar uma campanha ruim ou alguém perdendo a mão. E me chateio se eu percebo clara perseguição (como foi o caso da bala envenenada). Mas a última coisa que me veriam é eu protestando na mesa, criando um clima ruim que invariavelmente acaba com o grupo.
 Depois, especialmente dando carona para os demais participantes, aí é outra história. Os pontos fortes e fracos do mestre vinham em pauta. Quando Jean começou a narrar Tormenta, a gente brincava que ele tinha uma única voz (a do Presidente Lula) para todos os personagens... seja aldeão, seja lizardman, seja a taverneira peituda chamada Jéssica. Depois, quando narrava Ravenloth, resmungávamos que nunca completamos uma missão! E que meu guerreiro Lvl13 se tornava um total inútil porque tudo que esbarrávamos tinha aura de medo (Não que minha lendária falta de sorte nos dados precisasse de ajuda de um teste com menos de 20% de chance de passar). Mas sempre com bom humor, nunca na mesa durante a partida. E no domingo seguinte, lá tava eu com a ficha.
 Passei semanas sem saber o que fazer no clima espião/realístico da campanha de Mestre Thales, o Nonsense da segunda geração do M&M de Mestre Kineko (Mesmo esbarrando com o tal assassino capaz de “matar todo o grupo duas vezes com um só tiro”). O que dizer da campanha L5R de Mestre Gustavo, que ficamos todos tensos a noite inteira só assistindo ao jantar dos Daimios sem sacar armas nenhuma vez?
 Mesmo como jogador eu sou adepto da “Regra de ouro” do RPG. Se algo no cenário me parece estranho, é porque alguém que sabe toda a trama – e seus desdobramentos – acha que é melhor assim. Mas como mestre já vi que não é prática comum ao jogador mediano ser tão masoquista. Minha irmã, em uma one shot fora do enredo que trabalhava há quatro meses, matou todo o grupo e se suicidou. Meu PBEM da Cruzada, antes de entrar na saga épica dos jogos de Dee-jin, debandou alegando que eu era tirano e que outros NPCs matavam os caras maus e não eles.

Credo... Vou parar por aqui esta linha infeliz antes que devaneie para minhas amarguras.

 Se eu pudesse dar conselhos ao mestre, eu diria... Use filtro solar. Só isso. Tudo o que eu poderia passar é como EU me sinto confortável como mestre. Cada qual tem seu estilo, e pode dar certo ou não. Não adianta “mapear jogadores”, escolher sistemas mais fodões ou mais fáceis ou mais “sombrios”. Não há uma fórmula. É complicado e muito provavelmente não vai agradar a todos o tempo todo. Mas se os jogadores tiverem alguma maturidade e respeito pelo maluco de trás do escudo, e a mente aberta para se divertir, seja temas adultos e sombrios, seja sentais coloridos, o RPG está garantido.
O mestre pode contar com minha colaboração quando eu for player. É só não colocar coalas na história.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Clássicos de RPG do Hardman: DOYKOD

Eu tenho uma regra básica quando se trata de personagens de RPG: Se eu faço muito sucesso com um, meu próximo será o extremo oposto. Depois de Dranoew veio Melekashiro. Depois do Infinito veio Âmbar (estes dois terão em breve seus próprios textos).

Na segunda geração de Lives de Aracaju, posterior à d'O Tremere,que era essa pessoa sinistra, de um clã sangue-azul, de lábia e planos, e mais importante, que NINGUÉM se importava de aprender o nome, eu batizei o meu porque eu tinha uma camisa com o nome escancarado! Sim, um PJ para Dummies!

Doykod, ou Carlos Aguiar, adotou esse nome por ser fã da banda bahiana de Heavy Metal honômina. Claro, assim como as raízes transilvanianas (ou mesmo o nome) do meu Tremere, jamais se incomodaram em perguntar. Mas eu tinha a origem caso me perguntassem de prima.

Este brujah motociclista e metaleiro era um fanfarrão encrenqueiro de primeira. Falava alto e direto com todos. Ele não chegou a assumir liderança de clã como o Tremere, mas conquistou a amisade, especialmente do personagem de Evandro
(que eu esqueci... Perdão). O que era irônico, já que no live anterior éramos inimigos e um jogou o outro em armadilhas mortais.

No mais, fora a camisa que trazia seu nome, ele compunha seu visual com uma dentadura de fantasia de vampiro (não eram aqueles dentes de festa de aniversário. Mas quando tirava foto pareciam.) Uma jaqueta vagabunda (acho que era laicra) e minha amada Matilda.
Magnun .45 prateada, composta de isopor e papel impresso frente-e-verso. As regras do Live é que era proibido réplicas que pudesse ser confundidas com armas reais, mas Matilda passava. Somente em pose para fotos poderia se cogitar ser de verdade.

Fora isso, foi o Live mais bem-documentado (em termos de foto).

Como todo o personagem, tem aqueles momentos em que o Jogador se orgulha. Doykod não triunfou na noite como O Tremere, mas teve o seu. Era uma noite de conclave quando do nada surgem dois SABBAT! Um Lassombra e um tremere antitribu da trilha do Fogo, e do nada começava a nos esnobar. Furiosos, os presentes (liderados pelos Brujah) investiram naqueles inimigos declarados com caçada de sangue autorizado automaticamente... Como todos os membros da Camarilla deveriam. Só que após alguns com queimaduras irremediáveis e outros com a alma devassada pela tenebrosidade, ficou claro que aqueles dois eram mais poderosos que todos os doze presentes.
 
Então, com os mais fracos (de força ou de espírito, ou seja: 3/4 dos presentes) recuando, os Guerreiros ficaram no impasse entre serem destruídos instantaneamente defendendo aquele conclave ou se entregando como vadias covardes.
 Daí surge o NPC fodão fixo (não lmbro se ele era o Príncipe ou outra coisa) e avisa que eles eram convidados. E ainda alfineta algo como "mesmo assim vocês são inúteis contra eles".
 Aquilo doeu na alma de Doykod. Mais que aquela absurda Traumaturgia do Fogo 5 ou 6. Ainda mais que os narradores (o NPC fixo e os dois intrusos) se recolheram para um canto e passaram a noite toda alí confabulando, meio que esquecendo dos jogadores.
 Por causa do combate, a noite se alongou e teve de ser encerrada, e seria retomada no encontro seguinte. Nesse ínterim eu fui estudando as regras para ver como meu Brujah poderia fazer frente àqueles dois... E cheguei a traçar um plano.
 Na "noite" seguinte, o destino nos sorriu: O Tremerezinho chato tinha faltado, só tinha o Lassombra lá para esnobar. Ele estava sentado numa poltrona, confiante e fazendo caretas para todos. Evandro se juntou a mim e perguntou o que faríamos. Eu respondi: "Siga a minha deixa".
 Admito que fui meio metajogo. Eu sabia que os NPCs eram fodões e invencíveis, mas seus jogadores não pensavam como um Vampiro. Eu caminhei para trás dele, agachei-me atrás da poltrona, e aproximei meu rosto de sua nuca.
 - "Ih, virou baitola"? - falou King, o Lassombra. - "Tá querendo me dar beijinho?"
 - Mais ou menos isso. - respondi. - Declaro que estou cometendo Diableirrie!

 Agora bastava queimar sangue na Potência, Rapidez, e muita mais muita vontade. Evandro atacou um pulso. O Narrador debrulhava o livro de regras na vã tentativa de salvar seu NPC, mas não havia mais chance. A Camarilla triunfou no final.




Ao contrário do Tremere, Doykod encontrou sua destruição. Conforme falei na ocasião sobre o Tremere, os lives da Turma do Funil eram mais infantis e tinham poucos apegos pelas regras, e ao mesmo tempo eu criei uma irmandade dos esculhambadores Brujah e Gangrel...
E o malcaviano aí do lado...

... Eh... Sempre os Malkavianos.

Pois bem. O Brujah (Evandro, insisto dizer que em outra "vida" foi meu inimigo maior) se desentendeu com um Nosferato misterioso. Ele queria por que queria brigar com ele. Doykod pegou a história pela metade e achou a atitude de seu irmão de clã descabida. CHegou a dizer isso ao intruso, mas afirmou: Se tiver treta com ele, terá comigo.

Não deu outra: trocamos tiros. Mas foi uma cena rápida: A força de Evandro era inútil contra o NPC, Matilda também mal incomodou, e ele deu um tiro em mim, e sumiu.

Eu não tinha Fortitude, mas não imaginava que uma bala fosse capaz de me prejudicar muito. Na pior das hipóteses, eu estrava em Torpor mas Evandro estava lá para proteger meu corpo. Só que no fim da noite, o Narrador me avisa: "Olha, aquela bala estava envenenada e seu personagem vai definhar até a morte. Se quizer continuar vindo com ele pode, mas recomendo fazer um novo.


Sim, amigos. Uma bala envenenada matou um vampiro. Vamos até ignorar o que é necessário para por veneno em uma bala, e mesmo o fato de que vampiros são imunes a venenos normais, e que no máximo seria dano agravado (se fosse um Assamita, não um Nosferatu) e mesmo assim um único tiro causar pelo menos 7 pontos de dano: existe algum fim mais indigno para um personagem presente?

Prefiri concordar com os narradores. Enterrei Doykod e Matilda. Compareci como observador para saber que desenrolar teria aquela misteriosa execução, já que se tratava de uma bala que poderia derrubar um Brujah saudável até a morte final, pois se fosse uma engrenagem de trama, teria até orgulho de ser sacrificado, mas não. Ficou por aquilo mesmo.

 Ainda fui em um outro live, mas depois dessa preferi me afastar da TDF.