segunda-feira, 8 de junho de 2020

Quando o Hardman nos Traiu!


Sempre que eu jogo com um personagem que eu gosto, eu procuro jogar com o extremo oposto na campanha/partida seguinte. Quando era honrado e anti-social, o seguinte era traiçoeiro e sociabilíssimo. Se fui heroico, depois me torno covarde.
Então, como um desalmado leal-e-mal terminou da mesmíssima forma de um afável bom-ladrão caótico e bom?
Com a mácula da TRAIÇÃO. Algo que talvez prejudique minhas campanhas de hoje em diante.
Segue o relato das duas vezes seguidas que “trai o grupo”.


PARTE 1: LE-0, Droid de Suporte. Alinhamento: Lawful Evil. Cenário: uma one-shot de Star Wars.


Um pouco de metagame: Igor, - Jogador do "falecido" Kutullo e agora da Foice Belial na campanha '80 - é o típico "diferentão edgelord". Logo, quando disseram que íamos jogar em Star Wars, e o povo se inclinou em ser da rebelião, ele disse:


"Eu vou ser um Sith".

A gente já está acostumado. Sempre o "lancer", mas com limitadas habilidades de Roleplay. Parte para ajudar a ter um "time do mau", parte para provocá-lo ainda mais já que tendo um “colega” ele não podia ser o sozinhão, decidi ser seu Droid de suporte.

Assim nasceu LE-0. Druid de suporte, meio Jack-of-all-trades, com armas sônicas de controle de multidão, gás, grapling gun e o blaster mais rápido do quadrante.

Negociei com o jogador de Darth Igor (ele até deu o nome "Freud" pro seu Sith, mas a piada interna o tornou Darth Igor de vez) que ele tinha uma rival - Frostpain - pela posição de aprendiz do grande Mestre Sith. Os dois teriam eventualmente duelado, e ele perdeu. Mas teve sua vida salva por "mim", seu Droid de suporte, que om tirou inconsciente da arena e fugimos do Império, e nossa missão passou a ser adquirir poder para ele exercer sua revanche.

Bem, foi o que EU disse a ele.

Secretamente com o Narrador, combinamos uma alternativa: Havia um ritual que a Sith que derrotou Darth Igor queria exercer, e que exigia o sacrifício de um sith poderoso... Coisa que Igor não era ainda. Então, ela programou LE-0 para levar e auxiliar o jovem sith em sua evolução, e em breve, seria hora do ABATE. e EU entregaria o porquinho a minha genuína mestra.

Até lá, devo obedecer e mantê-lo vivo.

Bem, chegando aqui, sim, LE-0 seria um "Traidor". Mas queria deixar claro: Eu sou um traidor do personagem do Igor apenas. Não via problema em manter o grupo vivo. Mesmo o "porquinho"...

Eventualmente, nossa dupla encontra a outra dupla, os "heróis da resistência" - Um Jedi cinza wookie (apelar pra quê?) chamado Feanor e um armeiro engenheiro chamado Valcor, senhor das armas pesadas. Nosso encontro teve alguma tensão, mas graças a minha ampla gama de recursos para tais situações, conseguimos cercá-los quando nossos objetivos se encontraram. Mas Igor acabou levado pela conversa dos dois rebeldes... E eu não podia desobedecê-lo. E apesar dele ser um Sith, ele não estava sob ordens do Imperador, e o Wookie não era um "jedi bonzinho". Decidiu, pelo bem da aventura, unir forças.

Bolinha vai, encontramos um McGuffin que nos levaria a outro McGuffin . Um artefato Sith de vasto poder. Parece forçado, mas se você assistiu aos últimos filmes da Novíssima trilogia, vai ver que deveriam haver mais 3 subquests e 4 McGuffins . Estava de acordo com o cenário.

O problema foi na última dungeon. Quando ficou claro ao grupo que o McGuffin sith era malígno (tínhamos um xeroqueromes aqui), o engenheiro de armas pesadas começou a anunciar abertamente (eu diria, compulsivamente) que mal eles avistassem o artefato ia disparar um míssil-granada-ultra-blaster nele e vaporizá-lo sem sequer pensar duas vezes.

Isso me pareceu um problema. Afinal, eu ainda era um Droid do time do mau.

Que fiz eu? Comecei a articular em DM com o narrador: Um de meus equipamentos de contenção de multidão era boleaderas que imobilizariam uma vítima (que tivesse membros), menos letal mas mais garantido que simplesmente um tiro na nuca. Anunciei que assim que encontrássemos o McGuffin, iria neutralizar o Artilheiro. Seria por trás, e em total sigilo. Estaria o tempo todo fora da visão dele. O narrador concordou.

Também abri um segundo canal com Darth Igor. Convenci-o que o artefato era importante "para nós". Eu pedi que ele cuidasse do Wookie Jedi enquanto eu acabava com o artilheiro. Joguei com o psicológico dele, que poderia querer testar seus poderes contra outro usuário da força.

É... okey. Minhas intenções eram "boas" para o mau, mas ainda não me parecia traição. Eles poderiam no decorrer da aventura decidir não destruir o artefato que nos fez cortar meia galáxia sob chumbo imperial e monstros nativos.

Enfim, encontramos um "escorregador" que nos levou para um quarto secreto. Neste quarto, o McGuffin sagrado (um holocron Sith ou outra porcaria assim). O Valcor anunciou que ia armar seu mega-blaster-bazuca de onde estava mesmo, explodir o McGuffin , fazer-e-acontecer e o escambáu.

Eu abri o microfone e só disse com serenidade: "Narrador... Agora"!.

E o narrador anunciou que, com um ataque sorrateiro e traiçoeiro, o artilheiro rebelde estava enrolado, completamente imóvel. E na ponta da corda que o aprisionava, LE-0.

Todos estavam surpresos... Mesmo o Darth Igor que eu avisei que ia acontecer! Mas o fato era que teríamos muitos rounds em 2 contra um sobre o Wookie jedi. Dexei que meu "chefe" tomasse a dianteira, se ia só executar o adversário ou tentá-lo para se juntar a nós. Tinha o Wookie na mira, e estava com ação preparada. Mas novamente: O Roleplay era só "ser o diferentão" mesmo.

Infelizmente, para o grupo, uma passagem se revelou. E lá estava a Darth Frostpain. A aprendiz do Imperador. A minha verdadeira mestra. O McGuffin era o que ia extrair o poder de meu porquinho... Minha ordem 66 estava dada...

... Então, estava eu contra o grupo inteiro!

Meu ataque sônico atingiu os três de uma vez. Com o artilheiro amarrado e os dois usuários da Força a distancia, meu controle de multidão bastaria... Eu poderia vencer aquela luta sozinho se preciso, mas tinha a meu lado uma Sith mais poderosa que Darth Igor. Parecia que o jogo estava decidido. A matemática indicava que o Droid destruiria aquele grupo, e daria a alma de Darth Igor para que Frostpain evoluísse.

Mas os dados não me ajudaram. O Wookie e o Sith criticaram e passaram no limite em todos os testes. Minha arma de gás - minha arma-secreta, já que era o único que não seria afetado e ocuparia toda a área - foi neutralizado porque ao invés de só "detonar" e deixasse o gás se espalhar, fiz a besteira de disparar contra eles, que deu a chance do Wookie usar a força e afastar a cápsula. Logo, o Wookie libertou o artilheiro e começou a equilibrar a batalha.

E eventualmente Igor derrotou Darth Frost - novamente: mais pela sorte nos dados do que boas escolhas e trabalho em equipe – e eu estava com 1 PV no momento final, e o Narrador decidiu que estava muito tarde na madrugada, e já tinha derrotado o BBEG.

Declarei que minha programação me ordenava seguir comandos do aprendiz do Imperador... que agora, legitimamente, era o "Porquinho".

Se pudesse escolher... Le-0 preferia ser destruído.

PARTE 2 : LIZZO, Pirata humano, Caótic Good. Cenário: One shot de pirataria D&D 5e

Como já falei antes: Sempre que jogo com um personagem que eu gosto, meu personagem seguinte deve ser o oposto. Se eu era um Droid frio lawfull evil, Lizzo era um apaixonado swashbuckler caótico-e-bom.

Gostei da mudança da 5ª edição de colocar Swashbukler como subclasse de ladino, e não mais de guerreiro, como nas 3.0/3.5. E também sempre gostei do cenário de pirataria, e naquela madrugada de surpresa pude jogar pela primeira vez com um genuíno artigo. Não tinha os jogadores do Igor nem o artilheiro, mas o jedi Wookie estava lá. E pediu para eu não trair o grupo.

Como caótico-e-bom, meu pirata era altivo e entusiasmado, mas não cruel. Não via problema em roubar de outros navios, mas tinha um guia moral que complicava sua vida. por isso o nome "Lizzo": Nunca tinha dinheiro sobrando.

Agora éramos a tripulação do Capitão Barbasuja - Anão Guerreiro Cavaleiro arcano. O ex-wookie. E a primeira coisa que ele me diz: "Não vá nos trair desta vez"!

Agora eu era um tripulante bom, cheio de boas intensões. A tripulação era minha família! Não tinha porquê não o obedecer.

Tínhamos um mapa do tesouro. Rumamos para lá. Encontramos um navio mercante no caminho, lutamos, e vencemos. Eu tomei a dianteira para "exaltar" nosso capitão para tomar "de boas" o que quiséssemos do navio abordado sem mortes. E também para estudar as vítimas e proteger meu grupo. Sem traições.

Eventualmente, chegamos na ilha, seguimos o mapa, achamos a ruína. Nos lascamos por dois dias até começarmos a desvendar os segredos, armadilhas, fantasmas. Nos protegíamos mutuamente. Era a masmorra de um rei antigo, ha muito desaparecido. Seríamos todos ricos se metade das lendas do tesouro fossem verdadeiras. Não tínhamos por que trair uns aos outros.

Enfim, abrimos a última sala. E O REI estava lá. Agora um morto-vivo, seguido de dois ogros mumificados, protegido por um globo de invulnerabilidade... e atrás dele uma montanha de ouro. O Rei nos afirma que até gostou de nós, e que se aceitássemos serví-lo, teríamos o que quiséssemos.

Aí é que... Talvez... eu tenha errado.

Pois o Capitão e o outro PJ negaram, por seu orgulho pirata e ambições próprias. Mas como caótico (mesmo sendo bom e - juro por Jagah - não pensando em trair o grupo) pedi que elaborasse que tipo de acordo. O Rei disse que, se eu aceitasse, me daria um navio só para mim.

Juro - realmente preciso enfatizar bem isso - eu estava só TESTANDO A ÁGUA! Quando falei...

- Eu gostaria sim de ser um capitão.

A questão é: O narrador usava uma aventura pronta que dizia especificamente: Se QUALQUER dos personagens aceitasse verbalmente a proposta, ele era imediatamente transformado em um morto-vivo e deveria ajudar o Rei contra aqueles que recusarem o acordo. Eu particularmente não seria tão obediente a esse ditame como narrador foi, mas não posso julgá-lo.

Sim. Eu pensava em ver um pergaminho, para assinar com sangue... Até ele pedir que eu chegasse perto para o juramento - no momento em que eu daria uma de Jack Sparrow e derramaria o primeiro sangue. Não queria trair realmente o grupo, até por causa da mágoa do capitão que outrora foi o Wookie.

Mas não.

Eu recebi a instrução de atacar o grupo.

Para piorar: Eu venci a iniciativa (eu tinha AUDÁCIA, de Swashbuckler. CHA na Iniciativa). Atirei com minha pistola - 1 carga só, mas dano considerável - e quase neutralizei o capitão já de saída. Os ogros avançaram contra o outro PJ. Capitão Barbasuja recuou para fora da sala do tesouro, buscando curar-se e atacar à distância e com cobertura, e pretendia dar apoio com suas melhores magias ao outro PJ... Quando foi para minha segunda rodada.... eu fui à porta...

... E fechei por dentro.

Eu sabia que ele tinha um único slot de magia do 3º cíclo. Poderia ser um ataque devastador... ou o encanto "abrir portas". Com essa simples ação, eu isolei o outro PJ do apoio do capitão, e ainda matei seu slot mais alto de magia.

Desta vez os dados não foram tão felizes ao grupo. O Barbasuja precisou gastar sua magia senão o outro PJ estaria condenado. Mas até lá, só restou aos dois fugirem da masmorra, pesadamente feridos, com uma mão na frente e outra para traz... 

E quando estavam em seu navio, para ir embora daquela maldita ilha... eles viram uma montanha ceder, e mostrar uma caverna.

De lá, um navio morto-vivo emergia...

E na proa, comandando-o, o zumbi que outrora foi Lizzo.

O jogador do Capitão e do Wookie então marcou-me como "o traidor do grupo". E este estigma agora está marcado. Por duas vezes meu personagem deu um voleio. Uma, não triunfei porque a força estava com eles... Mas na outra, estava comigo.

Torço para que não condenem o meu pobre Bode & 5½. Eles têm boas intensões...


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