sexta-feira, 15 de maio de 2015

[crônica] - PARDAL

Estava eu lá, e ele lá. Em completo silêncio (vocês verão o Porquê ainda neste texto). Quando de repente, ele vira para mim e solta:

- BORBOLETA.
Ele fala, e olha para mim, como se eu tivesse que completar. Obviamente, procuro ao redor. Olho para ver se ele apontou algo. Mas não... Ele simplesmente soltou a palavra "Borboleta".
 - O que tem?
- Como "assim o que tem"? - revolta-se ele.
Ele está estranhando o meu "O que tem" seguido dum seco "Borboleta"?
Para ser justo: "Borboleta" não foi o que ele disse. Foi um assunto aleatório, espontâneo e igualmente inconclusivo, não necessariamente o inseto alado metamorfoseado de uma lagarta. Substitui apenas para preservar nomes e eventos.
- Você falou "Borboleta" e só! - tento retrucar
- Para bom entendedor, isso basta!
 Creio que estamos deixando o campo da gramática e da hermenêutica, e adentrando na física quântica.
- Bem, eu não sei. Preciso de mais subsídios para saber do que está falando. Tem uma borboleta aqui? Você tem medo de uma borboleta? Você queria ser uma borboleta?
- Você NUNCA sabe de nada! - fala triunfante.
Sim, é o TRIUNFO que ele busca. Mostrar que eu não sou culto o suficiente. Uma vitória quase tão gratuita quanto começar um diálogo com "Borboleta".
- Certo... E o que quer dizer "BORBOLETA"!
- Bah! Como ainda não sabe?!? Esta geração está perdida mesmo! A poluição está corroendo o cérebro!
 Ainda não consegui entender o que seria a conversa de "Borboleta" e já sou o avatar da decadência "desta geração", a qual, pela idade, já não pertenço.
- Chega! - falo enfim. Já tive conversas com poucas variantes (nunca antes “Borboleta”, mas ja tive um “e aquele negócio assim?”) com desfechos idênticos com aquela pessoa para minha paciência, um pavio já usado, estourar rápido. - É impossível conversar com alguém assim! Mesmos e eu soubesse dessa "Borboleta"!
- PARDAL.
 Infelizmente, devido à impossibilidade do meio escrito de transcorrer com precisão temporal a sequência de falas simultâneas, ficou pouco claro, então explico: No final de "com alguém assim!" fiz uma pausa para respirar. E ele falou simultaneamente "PARDAL" quando eu retomei a palavra. Não "Pardal" aquele pássaro, mas um assunto aleatório espontâneo e inconclusivo qualquer omitido para preservar nomes e eventos... DISTINTO de “Borboleta.
- O que? – pergunto confuso.
- OLHAÍ! - urra ele. - Dando ESCÂNDALO e NINGUÉM MAIS está falando de BORBOLETA! Sempre vestindo a carapuça! Sempre desatento!
 Resultado: ataques de Síndrome de Tourett unicamente para demonstrar que eu sou burro - tal qual minha geração - escandaloso, e desatento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário