Mirumoto Nobunada. Tholen da Torre do Martelo. Hellen'ae Mooredriff. Yuuhi Midori.
Meliny
Por que Meliny? Bem, a facilidade que eu tenho em junta-los por melhor domínio do cenário. Um mundo de fantasia medieval, com um "inferno" bem explorado em "O Demônio interior II" e "Mystara: princesa Succubus", com um influente reino oriental, com conflitos entre rigorosos samurais e misteriosos seres com poderes absurdos.
Particularmente, ando trabalhando bastante no modesto reino Doravânia, que é coincidentemente o mais próximo do orientalíssimo Wen-ha.
CONSIDERAÇÔES::
Não só sistemas, como cenários diferentes marcam os quatro personagens. Curiosamente, Hellen e Tholen tem muito em comum. De campanhas alternadas em Forgotten. Decidi que havia uma ligação anterior aos dois. Os demais PJs dos outros colegas ainda existem... De forma "fusionada (como Nindrile) e etc. Outros, podem ser ajustado ao comportamento dos outros. Midori agiria exatamente como Faelar uma vez ajustado ao grupo.
Hellen tem um segredo... Bem, não para quem jogou comigo ou acompanhou o diário. E também não para quem pega as não tão sutis pistas. Mas quero apresentá-la ao longo de uma série de contos. Partindo do princípio que ela viajou com o Flagelo de Vorbyx...
Ah, sim. Alguns nomes tive que mudar por "direitos autorais. Nobunaga tornou-se Geen Nobunaga, que seria o equivalente ao clã Dragão de Rokugan (com o bônus de ser a família imperial no tempo do conto). E Não mais Tholen poderá ser chamado de "Flagelo de Vorbyx", uma vez deixado Faerum.
O grupo de Nobunaga anterior permanece. Alguns nomes mudarão; outros se verão como mais próximos (Hida Fuji e Moto Lee são ambos adequaddos ao clã Tsé, enquanto a divina Shiba Maya seria uma Shorian inegável). Mas vou pincelando esse passado ajustado ao longo da série.
Sem mais... que comece a loucura!
A nau de suprimentos cruzava as ondas solenemente. Trazia legumes e verduras de Borenia. Eram exemplares miúdos e tímidos, frutos de uma colheita prejudicada pela seca, imposta pela barragem nas nascentes daquele importante centro agrícola. Seu destino era a capital da Doravânia, Habênia. Mas com qualidade muito abaixo do desejado, seu destino seria as feiras do Porto das Comunas, e não as vultosas mesas de restaurantes da pérola costeira. E mesmo assim, certo que pechinchariam ao máximo para aliviar os mercadores daqueles produtos.
Por isso, o casal que
solicitou passagem foi mais que bem-vindo. Aventureiros perdem a noção de
valores com o tempo, especialmente os bem-sucedidos. E por muito tempo, era o
caso dos dois remanescentes.
Hellen gostaria de
cantar. Animar os marujos em sua ingrata função, de guiar um barco arruinado
com produtos minguados. Mas deveria respeitar um certo tempo de luto. Era o
"certo" a fazer. Saltava ás vistas uma humana de beleza fenomenal,
longos cabelos lisos, cintura de vespa, e longas e torneadas pernas, visíveis
nas aberturas da saia que he cobria à frente e atrás. Completava o conjunto com
um corselete de couro, reforçado, mas ao mesmo tempo ornado, indicando que foi
mais pensado na apresentação do que no combate. Ela olhava com tranquilidade
seu companheiro de viagens.
O grande escudo-torre
quase cobria totalmente o anão. Era baixo, mas vigoroso. Mesmo para os padrões
do Povo Robusto. Se Hellen era um encanto, que mesmo em silêncio seria convidativa
aos transeuntes para trocar palavras, mesmo o respirar de Tholen Hammertower
parecia um cão bravo a rosnar. Ao alcance de suas mãos, o pesado Martelo dos
Ogros da Neve, chamado de "Flagelo". Uma arma encantada de um antigo
regente ogro, o primeiro grande prêmio do anão em combate. Nas mãos de um
combatente especialista, o Flagelo era uma devastadora arma. E Tholen nasceu
basicamente com martelos de guerra pesados ás mãos. Seus bigodes e barbas maltratadas
pelas andanças e lutas constantes davam a ele um ar de bárbaro, mesmo sendo ele
um talentoso mercenário, e destemido lutador.
- Você não parece
muito triste. - resmunga Tholen. Ele não fazia contato visual, mas Hellen sabia
que é com ela que lhe falava.
- Já você... -
retruca singelamente a feiticeira. - Pensei que não gostava da
"elfa"...
A "Elfa".
Nindrille. A companheira de viagem do grupo, a segunda a ser abatida. O motivo
para os dois aventureiros rumarem para a capital da Doravânia.
- E não gosto!... Não
gostava. - retruca Tholen, voltando-se para Hellen. - Primeiro: Porque era um
elfo. Segundo: Porque era elfo drow. Terceiro: Porque insistia em não me deixar
fazer o que faço de melhor.
- Clérigos de
Nivee... Fazer o que. - ri a feiticeira... Impróprio essa alcunha, mas cabia ao
disfarce da aventureira.
- Eu estou chateado
comigo mesmo. Quando um de vocês cabeças-de-brague caem é porque eu não fiz meu
trabalho direito. Mas não mude de assunto: Você foi a última a vê-la com vida,
e não parece sequer abalada!
Hellen via o teste do
anão em suas palavras. Ha pouco tempo sua verdadeira natureza havia sido
exposta, e pela confiança - ou indiferença, no caso de Tholen - foi-lhe dado um
voto. E agora, o guerreiro testava.
- Sim, Nindrille
morreu. - fala casualmente Hellen. - Era minha melhor amiga nesta terra, e
entendia o que eu passo. Se eu quisesse fingir sentir pena... Bem, você me viu
infiltrar na legião dos Kzarianos... Eu não precisaria esforçar sequer para
convencê-lo do que eu quisesse, querido. Minhas “lágrimas de crocodilo” são
perfeitas.
O anão estranha a
resposta. Discretamente, sua mão desliza para mais perto do cabo do martelo de
guerra.
- Você sabe de onde
eu vim, Tholen... - fala, após suspirar, olhando para os céus. - Eu tenho
certeza que a causa de nossa amiga era justa, e que ela foi recolhida ao lado
da sua deusa. Mas se os "elfos-do-sol" estavam certos... Se ela, como
todo o Drow, estava “mancomunada com deuses negros”, estará com seus
familiares. A morte... É uma bela forma de encerrar. Vocês mortais são favorecidos
neste aspecto. Quando eu morrer... Acabou-se.
- Nunca imaginei
alguém sendo tão ... Egoísta. - resmunga Tholen. - Mas... Eh, né? Parece o
certo para "sua laia".
Hellen'ae sorri para
o anão, mesmo sabendo que o gesto seria perdido.
Meras formalidades.
Ghunter, o primeiro
do grupo a morrer, era o ideal. O "príncipe nômade" era o expoente
mais indicado para um líder do grupo. Aventureiro promissor e destemido... Esse
desprendimento, seu próprio heroísmo o levou à ruína, mesmo com os esforços de
Tholen ao seu lado na batalha.
Realmente, de
"membro descartável", o Anão tornou-se muito valioso para Hellen.
Podia contar com sua palavra de honra, mas ele não fazia grandes distinções
entre bem e mal. Podia não gostar de ninguém - mesmo ela própria - mas estaria
lá pelo grupo.
Nindrille... Bem, só
poderia haver uma "abelha-rainha" na colméia.
(...)
O cristal flutuava
pelas ondas. Uma mais alta projetou-se da superfície e chegou a alcançá-lo, mas
o losango róseo não se deteve. Ao longe, o saveiro que se afastáva da costa
wenhajin, origem do cristal. Que flutua até a linha da praia. De lá, a estreita
mata antes dos rochedos, á sombra de galhos carregados das pétalas rosas, que
dá a Wen-ha o título de "terra das cerejeiras". E enfim, à mão.
O Wenhajin de porte
esguio e trajes azulados era acompanhado de sua subordinada, uma guerreira. Ele
ergue a mão, e toca o cristal brevemente.
Com o toque, a
mensagem é passada.
- O barco está
retornando. - fala enfim o líder de azul. - O hatamoto não percebeu nada, e só
perceberá quando for tarde demais.
- ... E?...
Renai sabia o que a
guerreira queria saber. A informação extra que exigia do membro infiltrado da
sua aldeia. Mesmo conhecido por ser "piedoso", um pouco de tortura
não lhe é estranha. E essa tortura era a demora em responder.
- E... Ele mandou
dizer que está se alimentando e que te ama.
Inagami, a guerreira,
a mãe, sorri.
(...)
Tholen e Hellen
desembarcam no Porto das Comunas, a "porta de entrada" de Habênia. O
pier era alongado, indo mar adentro, mostrando-se adequado para embarcações
maiores atracarem. As palafitas eram robustas e as tábuas do píer eram longas o
bastante para grandes carretas receberem contêineres e pesos. Desnecessários à
barcaça boreniana, mas por conta de safras mais vistosas de tempos anteriores à
guerra, o capitão tinha privilégios de ancoradouro do prático.
Mesmo sendo o
"porto do povo", a vista recuada era um privilégio. Habênia era um
belo balneário, mesmo antes de ser a capital da Doravânia. O grande distrito
chamado de "porto das Comunas" ia além da margem portuária, e
envolvia quase todo o comércio mundano. Seus prédios eram baixos, e a área dele
era plana, quase sempre ao nível do mar. Isso dava destaque ás zonas mais
elevadas, que era a "cidade funcional". O Bairro do
"Coração", e uma parte das rampas acidentadas que formam o distrito
"Saudosas colinas". Ambos de bela arquitetura. Coroada, no ponto mais
elevado, pelas torres do Palácio Doravan, lar da família real. Sede
administrativa do reino.
- Estalagem ou
Taverna? - resmunga Tholen. O anão, sempre que disposto, falava da sua terra
natal, a "Torre das Armas", uma obra de arquitetura anã. Monolitos
esculpidos ao longo de um século pelos talentosos membros de sua comunidade.
Assim, por mais grandiosa que fosse a paragem forjada por humanos ou elfos,
Tholen torcia o nariz e ignorava.
- Sério que não quer
esticar as pernas... Conhecer a cidade? - Perguntava animada a acompanhante.
- Eu só preciso
conhecer a Taverna. - Resmunga o anão. - E de preferência, as tavernas com
bebidas fortes.
- Não quer que eu
ajude com a carga?
- Não. - Thonlen
sacode vigorosamente a cabeça. - Quando for hora de vender o espólio dos
elfos-do-sol, você assume. Lábia é contigo... Cerveja, comigo. - O anão
deslocava-se com certa morosidade, mas sempre constante, não importava o quando
carregasse. Trazia além dos pertences de Hellen'ae e seu arsenal pessoal, o
saco de truques de Nindrille abarrotado com tudo o que tirou da "Ordem dos
Elfos do Sol", uma facção élfica de adoradores de Sargan, que declarou
guerra aos Drows, independente de serem bons ou maus. Por semanas, eles
seguiram o grupo por causa da presença de Nindrille. Então, em uma noite
inesperada, quando Tholen estava longe, o grupo cercou a arqueira drow. Hellen
estava presente, mas não foi capaz de detê-los, até o anão juntar-se a ela na
luta.
Sem a Drow, ao menos,
aquele bando estaria fora da lista de problemas do grupo. Ainda assim,
reduzidos a dois, as andanças seriam complicadas. O objetivo era encontrar uma
nova companhia aventureira.
Enquanto Tholen era
rabujento e objetivo, Hellenn'ae era espairecida e encantadora. Era tão
empática quanto talentosa nas interações sociais, com grandiosos e abstratos
planos. E seu olho clínico buscava oportunidades onde pudesse. E ainda naquele
porto, a oportunidade lhe apareceu.
- Tholen... Olhe lá.
Hellen apontava um
saveiro, um barco de pesca com proa a meia-lua. Era consideravelmente grande,
normalmente indicando potencial de pesca oceânica. Estava, naquele momento,
ancorando em um píer alongado, vizinho ao qual eles andavam no momento.
- A-ham. - Tholen deu
com os ombros.
- Olhe a
tripulação... - aponta a feiticeira. - Seis marujos, e vinte ... Olhe lá! -
repetia freneticamente.
Os exóticos
tripulantes - Tholen não pode constatar se eram mesmo vinte, mas pelo volume de
cabeças era uma aproximação crível - eram homens de armas leves, com corseletes
de couro em loringas, adornado com seda, protegendo do frio. Eram todos
idênticos, tal qual um uniforme.
- Aquilo é seda
Wenhajin... - sussurrava Hellen'ae. Se tinha alguém capaz de identificar
tecidos a trinta metros de distância, esse alguém era ela. - Eles marcham
regularmente. Aquilo...
- É um exército
regular. - resmunga Tholen. - Eu não sou um acéfalo, sabia?
- Certo,
"não-acéfalo"... - brinca Hellen, dando um peteleco nas barbas dele.
- Então, o que está errado nesta cena?
Tholen olha
duramente. Faz algum esforço mental. Detestava reconhecer suas limitações.
- Isso mesmo. -
Interrompe Hellen. - Não é uma mera guarda pessoal ou mercenários. São soldados
Wenhajins.
- Do reino-ilha do
oriente?
- Exato. - Hellen
leva os dedos ao queixo. - As roupas e armas não parecem gastas. E nenhum reino
deixaria um bando invasor entrar em sua capital assim... Eu chutaria que é uma
comitiva diplomática...
- Provavelmente é
isso... - fala Tholen. - Mistério resolvido... Vamos beber.
A feiticeira não
tinha concluído ainda.
- Tanto as embaixadas
quanto os convidados do reino atracam no Porto Real, do outro lado da ilha. -
Hellen era bem entendida sobre os reinos de Meliny. Conseguia puxar da memória
o que estudara sobre as capitais, incluindo a distribuição social da capital insular
doravaniana.
- E... Que comitiva
usaria um saveiro? - resmunga Tholen, entrando no jogo. - Ah, não me diga
que...
- Creio que vamos
saber logo... - Hellen já ignorava a rabugice do colega àquela altura.
(...)
Hellen e Tholen
acompanharam quando um quarteto destacou-se do grupo principal. Perceberam
alguma comoção quando misturaram aos transeuntes do porto para observar os
exóticos visitantes. Tholen não entendia "o que" faziam, mas sabia
que Hellen era uma caçadora de aventuras e experiências. Desde conseguir
convite para bailes de famílias ricas de cidades onde o grupo pernoitou a
grandes festejos de tavernas, ela sempre estava ocupada. E arrastava todos
consigo.
Os dois cogitaram
dividir-se quando um destacamento partiu para terra firme. Mas optaram por
seguir junto os quatro batedores wenhajins. Hellen era discreta e habilidosa
para fazer "sombra", mas em ruas caóticas como aquelas, o barulhento
Tholen passaria por mais um na multidão sem dificuldades. Um deles parecia o
líder, trocava palavras com pessoas ao passar. Os que respondiam gesticulavam
direções. O Wenhajin agradecia, e os quatro seguiam.
Enfim, após algumas
ruas tortuosas, os quatro encontram o que procuravam. Um prédio baixo, mas
amplo, com barulho de movimento de seu interior. Na soleira da porta, pendia
uma placa: "Paella Rala".
- Uma taverna?!? -
resmunga Tholen. - Eles devem precisar de bebidas mais do que eu.
- Eles não vieram
pelo ambiente. - ri Hellen, excitadamente batendo a ponta dos dedos. - Eles
vieram contratar!
- Trabalho? -
resmunga Tholen. - Eu nem bebi ainda!
A dedução de Hellen
estava acertada. Mas não era tão absurda de se chegar. Aventureiros em busca de
missões reúnem-se em tavernas por toda Meliny, mesmo em reinos mais reservados
como Wen-ha.
"Paella
Rala" era um restaurante moderado, mas com um bar amplo, o qual, era a
principal fonte de moedas. a freguesia prioritária eram os beberrões do porto e
os desocupados da cidade, mas aventureiros a procura de trabalhos ou boatos
tinham sua respeitosa parcela. Hellen e Tholen provavelmente iriam acabar
naquele lugar, ou em estabelecimento parecido.
Um "mural de
recados", prática comum para terras com aventureiros, estava esposto
singelamente na entrada. Mas a Doravânia era uma terra em guerra, a despeito do
que parecesse na isolada e paradisíaca capital. Assim, o mural tinha mais
"procuras" do que ofertas. E para piorar, o Melinês comum não era a
língua materna dos soldados agora amontoados, tentando lentamente decifrar
aquilo.
Hellen'ae aproveitou
a confusão. Um de seus talentos natos - raros mesmo dentre os de sua raça - era
a leitura da mente. Pensamentos superficiais eram ouvidos como se falassem em
voz alta. Tholen reconheceu os olhos fixos, quando ela não precisa disfarçar o
uso de seu talento. Ele não se sentia confortável com meios escusos como aquele,
mas não o suficiente para ter qualquer peso na consciência.
Enfim, o tenente do
grupo destaca-se. Ele primeiro olha na multidão. Parecia procurar alguma coisa.
Concentra os olhos em um grupo desalinhado numa mesa afastada. Usavam armas e
ostentavam armaduras, mas seu interesse esvai. Enfim, o desajeitado estrangeiro
decide fazer uso da voz.
- Mago! - fala ele. -
Procuro um mago! Contrato um mago!
Seu sotaque acanhado
é ignorado ante a barulheira normal da taverna. O tenente estava
definitivamente desconfortável com a cultura local para compreender o
procedimento daquelas terras. Mas felizmente, alguém os mapeavam a tempo.
- Eu sou o mais
próximo que vai achar de um especialista, senhor. - Tholen espantou-se. Mal se
distraíra, Hellen aproximou-se do tenente, e falou com um wenhajin impecável.
Ela parecia extremamente solene, com o olhar baixo e as mãos unidas.
O Wenhajin olhou a
fêmea de cima a baixo.
- Você não se parece
com um usuário arcano. - retrucou igualmente em Wenhajin. - Mas me parece uma
boa pessoa. - Havia uma aura sobre a feiticeira que a tornava um magneto
social.
- Perdoe esta humilde
serva. - Completa Hellen. Por mais alma livre que Hellenae fosse, ela podia se
desdobrar como um verdadeiro camaleão social, e sabia que a questão de gêneros
em Wen-ha era muito mais sensível do que no resto do continente. - Eu sou Hellen'ae
Mooredriff, e creio que os deuses nos colocaram em seu caminho para iluminá-lo.
O tenente uniu as
mãos igualmente e maneou a cabeça. Não se curvou, mostrando que ainda se
julgava superior. Mas estava satisfeito.
- Peço que nos siga,
Mestra Mooredriff. Meu amo tem negócios para você.
A feiticeira quebra a
formalidade, piscando para Tholen positivamente.
- Por favor... -
responde ela, em Melinês. - Pode me chamar de Hellen.
(...)
A presença de Tholen
foi estranhada pelo quarteto, mas o anão simplesmente juntou-se a Hellen'ae sem
sequer trocar palavras com ela. Acabou não sendo impedido, embora estivesse
constantemente sob o olhar atento dos três subalternos de Akashi, o tenente de
guarnição.
- Meu senhor é um
homem importante. - fala ele, quando se aproximava. - O Glorioso provavelmente
só solicitará uma consultoria. Mas se ele quiser que o siga, vocês o seguirão.
Senão, melhor nem vir comigo.
- Tudo tem seu preço,
humano. - rosna Tholen
- O oni peludo está
dispensado. - retruca, demonstrando quanto insatisfeito estava com o anão. - O
Glorioso possui as melhores espadas do reino.
- Mas não um martelo
arrancador de dentes. - O anão adiantava o passo, provavelmente para tomar a
frente do tenente e afrontá-lo cara a cara.
- Tholen estará aqui
por mim. - adianta Hellen, detendo o avanço do anão, mas sem perder a
compostura. - Mesmo o seu glorioso hatamoto segue com aqueles a cobrir-lhe... O
que dirá uma humilde arcanista como eu...
Akashi fingiu ignorar
a provocação contida do anão. A presença de Hellen era inebriante. Em outro
tempo, Tholen seria uma minoria no grupo, deixaria que tratassem
democraticamente com os contratantes. Mas com eles reduzidos a dois, sua
opinião forte tinha muito mais poder.
- Cada uma que me
fala... - rosna o anão. - "as melhores espadas do reino"... Já vi
elfos com mais carne no braço que esses baixinhos de pijamas.
- Tholen... Esta é a
Guarda Vermelha. - explica Hellen. - São esgrimistas de segurança pessoal,
oficiais em treinamento. Creio que não eram eles a quem Akashi se referia.
- Ah é? - ri Tholen
com escárnio. - E quais seriam "as melhores espadas do reino"?
- As minhas.
O grupo é
surpreendido. O impaciente mestre encontrou-os no meio do caminho. Era um jovem
adulto alto e esbelto, com traços orientais. Usava elegante roupão de viagem
das cores verdes com detalhes em dourado, e trazia um daichô – conjunto de
espadas, uma Katana e uma wakizaki - à cintura, amparado pela faixa de condão e
pela mão esquerda firme. O quarteto cessa a marcha e põem-se de joelhos ante
Geen Nobunaga.
(...)
"Hatamoto",
os aventureiros souberam, era uma posição de grande prestígio no clã regente
wenhajin. O equivalente a general em tempos de guerra. Geen Nobunaga era o
"hatamoto da lâmina". Era instrutor esgrimista do exército imperial.
Respondia a homem nenhum exceto o Shogun.
Em suas terras,
Nobunaga era um guerreiro famoso. Não só com a espada, mas com poesia. Foi
campeão de hai kai / Haiku de um grande torneio de Akiobara, e no quadro geral,
somado seus talentos marciais e sociais, foi o segundo colocado. Fato que
rendeu o cargo de prestígio que possuía agora.
A cabine do capitão
do saveiro foi ajustada às peculiaridades do nobre. Capitães tendem a ser
figuras de alto grau de orgulho. A tolerância dessa excentricidade indicava que
Nobunaga fez por onde: em ouro ou em respeito.
Ainda assim, o
aposento sem mobílias exceto tatames e uma discreta mesa baixa, com incensos
disputando espaço com o cheiro natural de uma barcaça pesqueira, cabia somente
três indivíduos. Akashi, o tenente, permaneceu no vão de entrada, como se
defendesse seu mestre. Hellen, habilmente, acompanhou os movimentos de Nobunaga,
ajoelhando-se com os calcanhares semi-cruzados.
Tholen até tentou,
mas suas juntas duras e membros curtos tornavam a formalidade impossível,
então, permaneceu de pé. Qualquer um mais alto que o membro de maior estirpe,
na cultura wenhajin, estava em ofensa. Mas Nobunaga era paciente ao entender
que não lidava mais com seus patrícios.
- Sinto muitíssimo em
não oferecer um chá. - começa o hatamoto. - A embarcação é menos que
satisfatória, embora necessária.
Tholen agita a mão
sobre o que parecia ser uma mosca. Ouvira dizer que não havia moscas em
Habênia... Mas aparentemente era outra mentira humana.
- Perdoe a ousadia,
Nobunaga-sama... - interfere Hellen. - Mas tememos sobre a natureza de
subterfúgio de seu intento neste reino. Perdoe-me a ressalva...
- Dobre sua língua
caluniosa, mulher! - urra Akashi, de sua posição afastada.
- Deixa os adultos
conversar, ô serventia. - Tholen move seu obtuso corpo à frente do samurai.
- Akashi... Chega. -
Nobunaga não eleva a voz, mas consegue colocar seu subalterno em postura
tranquilizante, mais que as ameaças de Tholen. - Ela está errada sim, mas teve
seus motivos. É óbvio a qualquer observador, mesmo não crendo em minha
identidade, ver que este barco pesqueiro foi improvisado.
"Tenho a minha
disposição uma barcaça imperial, senhorita". - Começa a narrar o wenhajin.
- "Esta devidamente ancorada no Porto Real. Eu compareci a pedido do
Shogun-imperador em um evento diplomático, que por hora, não deve ser debatido
fora das salas de trono dos regentes reconhecidos ao trono dos Deuses-dragões.
Eis o motivo da Guarda Vermelha me acompanhar. Minha missão diplomática acabou
semanas atrás... Mas na falta de um diagnóstico melhor... Direi que me encontro
amaldiçoado".
- Amaldiçoado?!? -
Tholen arrepia-se. Não costumava a ser supersticioso... Mas em uma de suas
aventuras sofreu algo parecido com "maldição".
- Akashi, meu
tenente, também é um capitão competente. E a Ilha está a menos de um dia de
viagem. três ou quatro dias, se contornarmos para alcançar as terras do
shogun-imperador... Mas desde o fim de minha missão, sempre que lançamo-nos no
mar, não encontramos as terras. Acabamos sempre, de uma forma ou de outra...
Retornando a Habênia.
- Tentou trocar de
capitão? - perguntou Hellen. Akashi poderia sentir-se ofendido, mas o assombro
era tanto que não parecia insultado.
- Sim... E o mesmo
ocorreu. O mais bizarro: em uma tentativa-e-erro, Akashi assumiu a capitania da
embarcação e partiu uma quinta ou sexta vez em direção a nossa terra... E enfim
conseguiu alcançar a costa de Wen-ha.
- E o que tinha de
diferente desta vez? - perguntou Tholen.
- Eu não estava a
bordo. - retruca Nobunaga. - Empenhamos este saveiro do porto das comunas, e
parti em total segredo. Ainda assim, tanto Akashi quanto o proprietário da
embarcação deram instruções claras e inequívocas. Os marinheiros, alertados
para em advento de coisas estranhas confrontar mesmo seus senhores... E
amanhecemos de volta ao Porto das Comunas.
A narração é
abruptamente interrompida por Tholen, batendo com a manopla na parede de lenha
do barco. Tentava matar a mosca mais uma vez. Nobunaga começava a se irritar
com o anão, e Hellen percebe.
- Eu tenho uma
teoria, senhor. - adianta ela. E a meu ver, teve muita sorte.
- De encontrar você?
- espanta-se o wenhajin.
- De encontrar
Tholen, mais precisamente.
- A mim? - mesmo o
anão parecia surpreso.
- Prefiro não falar
abertamente o que eu penso... Mas eu teorizei sobre o que acontece com seus
capitães. Um efeito mental... Sou ligeiramente entendida neles. Posso afirmar
que Tholen é a pessoa ideal para a capitania... Veja, ele é membro de uma raça
chamada "anã". Suas mentes são protegidas contra efeitos como os que
descreve.
- Não parece uma boa ideia...
- resmunga Tholen. - E eu não sei navegar...
- Siga minha deixa,
meu amigo. - interrompe Hellen, falando no idioma anão. Depois, continuou em
comum. - Tholen pode muito bem ler uma bússola, ou reconhecer o sol. Se ele for
a autoridade máxima, poderá prevenir mudanças de rumo grosseiras como esta. Mas
de qualquer maneira, eu seguirei com o senhor... Humildemente, investigarei a
origem sobrenatural de sua suposta maldição.
Nobunaga olha com
renovada admiração para o robusto guerreiro. Mesmo assim, apressa-se a se por
de pé, e não mais aguentar alguém o olhando de cima para baixo.
- Posso cobrir
valores mais do que razoáveis que solicitarem...
Hellen faz o
movimento de curvar-se.
- Sua amizade é o que
nos move, Nobunaga-sama.
- Ela não fala por
nós dois... - Retruca Tholen.
(...)
- Certo... - resmunga
posteriormente Tholen. Hellen e o anão ganharam um compartimento de carga seca
como aposentos provisórios enquanto uma nova jornada era preparada. - O que
você está pensando, fofinha?
- Como assim?
- Primeiro... Você
estava lá quando o abolete me transformou em “isca-reversa”... Eu aguento mais
que a maioria, mas não sou imune a encantamentos. E você sabe disso.
- Você estava fazendo
muitos inimigos, Tholen... - Fala ela com leveza, enquanto escrevia algo
intraduzível aos olhos do anão. - Eu não queria que o expulsasse desta
aventura, meu querido... Agora, você é parte essencial da equipe.
Tholen parecia
ofendido... O que indicava que ele acreditou.
- E o papo de
"sua amizade"?
- Lorde Nobunaga é
consideravelmente próximo de uma realeza wenhajin, e é também um nome grande em
aventuras. É um bardo e aventureiro de espírito. Se fizermos um grande favor
para ele, conquistarei a fama que busco como aventureira. isso nos dará o
acesso para que o busquem... E ouro? Nem temos como gastar nosso espólio atual.
Como aventureiros famosos, podemos leiloar nossos serviços, não concorda?
- Sei não... -
pondera insatisfeito o anão. - Eu definitivamente não gostei do cabeludo com
olhos puxados. Quase tanto quanto do vermelhinho do Achati...
- Akashi... - corrige
a feiticeira. - De qualquer forma, vamos limitar nossas conversas privadas à
mente de agora em diante, certo? Falar em seu idioma nativo pode ofender nossos
sensíveis anfitriões.
- Como assim? -
estranha Tholen. Sabia que sua colega podia ler pensamentos superficiais e
transmitir os próprios ha consideráveis distâncias.
- Eu não acreditei
muito na história de maldição... Mas penso em sabotagem...
(...)
A Guarda Vermelha é
uma força militar diplomática, não o exército regular. Ainda assim, era um dos
encargos de Geen Nobunaga orientá-los na arte da espada. Um dia, os melhores
deles servirão como oficiais, guerreiros, e mesmo embaixadores eles mesmos...
Mas naquele momento, o corpo de disciplinados jovens não estavam prontos para reagir
a uma emboscada.
Saisho percebeu tarde
demais a armadilha. Pode ver nos olhos o seu inimigo, mas jamais sacaria sua
arma. Quando enfim libertou-se, soube que a comitiva de Nobunaga já estava no
estrangeiro. Ao que percebeu, com sua ausência, somente dezenove dos
componentes da Guarda Vermelha seguiu com o hatamoto, e uma vez retornando,
aquela mancha provavelmente condenaria a carreira do jovem oficial.
Mas aos olhos de
Nobunaga, os vinte esperados compareceram. E agora, impossibilitado de retornar
a sua terra, ele nem desconfia que Saisho não seja quem clama ser...
(...)
Tholen foi sincero em
proclamar-se inapto á capitania. Em fato, água em si foi um dos grandes
desafios de seu grupo no passado. isso até o anão conseguir uma gema mágica que
torna sua armadura capaz de se mover livremente em corpos aquáticos. Aquele
abolete - um enorme monstro aquático capaz de controlar mentes e atrair
incautos a seus refúgios - aprendera da pior forma, uma vez o anão livre de sua
influência.
Hellen, por sua vez,
dava vida ao seu papel de "consultora". Nindrille era a especialista
em ocultismo de seu grupo, e mesmo os "feitiços" que ela lançava era
um truque sobrenatural. Mas todos os soldados - alvos primários da desconfiança
- eram disciplinados o suficiente. Somente no ato da "traição", ela
perceberia quem seria o impostor.
- Anão! - urrou
Akashi. - Podemos ir direto à costa ou dar a volta e atracarmos na capital.
- Direto para a
praia. - Tholen decide sem pensar muito. Estavam na proa em meia-lua, mais especificamente
onde deveria estar dobrada a rede de pesca.
- A viagem a pé será
longa e desgastante. O glorioso tem preferência por atracar em Akiobara.
- DIRETO! - urra
Tholen, chegando a salivar sobre o rosto do tenente. - Na Torre das Armas, um
capitão não dá uma ordem duas vezes!
- Você não é um
capitão! - protesta contido.
- Ao que me consta...
Você querendo evitar o caminho mais adequado é muito suspeito... - Rosna Tholen
entre os dentes, quase colando seu rosto no queixo do desafeto. - Eu vou dar
uma mijada, e vou estar de olho no sol e nas bússolas. Não quero um grauzinho
errado na rota, entendido, Hashishi?
Tholen deixa seu posto
cuspindo injúrias.
- É Akashi... Youkai
peludo maldito... - resmunga inaudível o tenente.
(...)
Nobunaga postava-se
em posição de lótus, e tentava preencher sua mente com seus katar. Mas seus
pensamentos eram seguidamente assolados com a possibilidade de estar
amaldiçoado. Mais do que não poder voltar a sua terra... Como seu prestígio
ficaria afetado em seu reino. Dentre os hatamotos, mesmo Lee Bayushi que lhe
tomou o título no Torneio de Jade, o "Dragão Verde" era o mais
completo e reconhecido. Nobunaga acabou se levando por isso. Tornando-se
perfeccionista. Obcecado.
Ainda assim, deveria
ser uma rocha. Era a estabilidade que o império wenhajin precisaria. Que seus
subordinados esperavam dele. Deveria mascarar suas dúvidas e seu ego...
Mas era difícil
mascarar em frente àquela visão.
Hellen havia
trocado-se desde que embarcaram. Escolhera um generoso decote de uma vestimenta
élfica, ornado com uma saia de seda, que lhe cobria as pernas, mas eram leves o
suficiente para desenhar-lhe a silhueta como se fosse sua própria carne. Seus
esvoaçantes cabelos negros estavam amarrados em um rabo-de-cavalo, revelando as
linhas de seu pescoço, busto e orelhas.
- H... Hellen-san? -
espanta-se o hatamoto, desguarnecido à surpresa.
- Espero não estar
sendo indelicada, Geen-sama... - fala ela, com voz sussurrante. Mas já entrava,
com passos felinos nos aposentos do nobre.
- Eh, alguma pista?
Veio trazer-me informações de seu capitão? Ou do fenômeno? - disparou, tentando
apressar a revelação da visita.
Hellen sorria. A
confusão mostrava como abalava o tão disciplinado general. Ela enfim saca o
papiro que escreveu na viagem.
- Ainda temos tempo.
Tomei as providências necessárias. - adianta ela. - Mas eu estou diante de uma
oportunidade única... Em sua presença... de mostrar a um mestre numa arte tão
... Uma excitante noite de...
- Pe-perdoe-me,
Senhorita.... - Nobunaga dá alguns passos para trás. - Creio que me sinto
obrigado a informar que tenho esposa e filhos em minha terra natal... e ...
- Hai kai... - Hellen
quebra gentilmente a cabeça para o lado, com um sorriso maroto. - Poesia...
(...)
Tholen não avistou a
companheira quando desceu ao último tombadilho, onde a dependência sanitária -
um buraco que evacuava tudo para o mar - estava. Mas foi bem avistado pelos
membros da guarda vermelha ao longo do convés. Sabia que Hellen precisaria
começar o contato para sua comunicação pudesse ocorrer. A demora em ter
notícias incomodava por demais o anão. Ao ponto de virar os olhos para cima e
pensar repetidamente o nome "Hellen" ou sua alcunha racial, como se
auxiliasse na comunicação.
Mal Tholen percebia
que "Saisho" da guarda vermelha aproximava-se. O corredor era
estreito, e um ligeiro toque era inevitável. O impostor, contudo, pretendia dar
uma trombada forte... Provocar o Anão. O fato de ele parecer perdido em
pensamentos só facilitava seu intento.
E os ombros se
esbarram com violência, ampliada por uma inoportuna onda que balançou o
saveiro. O pequeno guarda vê-se projetado com a reação contra a parede e chega
a perder o equilíbrio e cair.
Aquilo era
imprevisto. O espião esfregava freneticamente o ombro, certo que ficaria um
hematoma roxo... Mas ainda postou-se no chão vulnerável. Um erro que seria
fatal...
... Se Tholen sequer
percebesse que cruzou com alguém. Não só era mais denso que seu
"agressor" e guarnecido com armadura de qualidade anã, como a sua
estabilidade racial passou despercebido pelo ataque.
(...)
"Pedir sua amizade
Amigos vem e não vão
Ou não o são"
Em Wenhajin, a frase
formava um hai-ku devido. Cinco caracteres na primeira linha, sete na segunda,
e novamente cinco na primeira. A poesia não precisava rimar, mas obedecer a métrica.
O desafio era concentrar a sabedoria de uma lição ou de um sentimento no
formato.
- Muito bom... -
Nobunaga falava quase academicamente. - O tema "Amizade". Que você
pediu quando nos conhecemos... Indica que escreveu para mim, não?
- Sim. - Baixava as
feições envergonhada. - Mas também fiz uma coisa com este verso... Você
precisaria ver o...
- Você desenhou?
Hellen surpreende-se.
Busca o olhar de Nobunaga, e vê que o wenhajin estava com os olhos fechados. Em
sua mente, ele montava os kanjis.
- A primeira letra da
primeira linha... e a segunda letra da segunda linha... É a cabeça do dragão. E
os sub-vocábulos, um corpo de dragão-serpente, em curva de arco.
Ela sorri e mostra o
papel. Sua demonstração havia sido desmascarada. Realmente para o efeito
visual, precisou desalinhar ligeiramente a segunda linha, mas ainda era um
Hakai informal válido.
- Fui pretensiosa em
achar que podia surpreender o campeão wenhajin? - ri ela contidamente.
- Não deve ter sido
fácil... - Pondera Nobunaga, aproximando-se. - Precisa de bom domínio do meu
idioma, e imagino algumas tentativas. E o resultado é um fenômeno visual, não
literal. Ouso dar um parecer?
- Por favor... - fala
Hellen. Estava desguarnecida... Queria ver onde isso seguia.
- Não preciso dizer
que sua beleza está fora dos padrões... - começa. - E o foco de sua poesia é o
visual, a apresentação. A mensagem, por bela que seja, é algo já declamado. Eu
vejo alguém que tem um belo exterior, física e mentalmente. E gosta de
expô-lo... Mas também teme o interior. Labora em sua arte, não simplesmente a
produz. Vejo algo escondido, mas ao invés de muralhas, uma distração aos olhos.
- Não estou certa se
foi um elogio... Ou a mais educada crítica que eu já recebi... - fala Hellen.
Suaria por estar tão perto, se não fosse tão competente atriz. - Mas devo
confessar a inspiração?
A feiticeira
aproxima-se decidida de Nobunaga, e toma suas mãos, descobrindo as mangas
amplas do kimono, revelando o antebraço. Dele, uma tatuagem surgia. Um dragão
verde que serpenteia pelo braço, e sua cabeça termina nas laterais internas das
mãos. O maxilar do lagarto era projetado no polegar e o focinho no indicador.
- Quando empunha uma
espada... - fala ela. - É como se dragões mordessem o cabo. Então as míticas
bestas agitam lâminas quando você encontra-se em combate?
Hellen'ae conseguiu
facilmente reverter o confronto. Uma vez descoberta como se aproximar do nobre
wenhajin, tocar sua pele e olhar em seus olhos a curta distância, ela o tinha
domado...
(...)
Tholen continuava
tentando inutilmente comunicar-se com a aliada, ignorando que ela estava no
quarto do hatamoto, imediatamente acima de si. Mas enfim, desperta de seus
pensamentos quando algo o atinge no elmo, ressoando com o eco metálico.
O anão olha para o
chão, e vê uma bolota. Uma fruta-semente, redonda e cascuda como um coco, mas
pequena em proporções.
Lentamente, volta-se
para a única vivalma naquele nível...
Saisho, estava parado
a sete metros dele. Mesmo se ele tentasse disfarçar - o que não estava
propriamente fazendo - seria impossível negar a autoria.
- Ô moleque... -
rosna o rude anão. - Foi você quem atirou isto aqui na minha cabeça?!?
O impostor não
precisava falar. Apenas dá com os ombros casualmente e sacode a cabeça com um riso
zombeteiro.
- Eu já dobrei ogros
por menos do que isso, seu borra-botas furta-cor... - ameaça Tholen, agora
voltado completamente para o estranho.
Como consequência da
ameaça, o guarda vermelha repete o gesto, e estica as mãos em movimentos
circulares, um deboche da guarda de boxe.
- Ah, você pediu por
isso, seu elfo flozô... - Tholen estica o pescoço, para a direita e para a
esquerda, estalando-o em ambos os movimentos. Não sacara o martelo ou as
machadinhas, como a regra de briga de rua ensina. E enfim, investe em corrida.
O alvo não se mexeu.
Provocou ainda mais, à medida que o anão desembestado se aproximava. Mas enfim,
instantes antes dos lutadores colidirem, Tholen sente seu movimento ser
amortecido ao longo de seu corpo, mas com o tato no rosto percebe que linhas
invisíveis estavam se esticando quando ele passou por um vão. Mal parou
completamente a investida, um estalo e sons de equipamento mecânico era ouvido.
Uma rede irregular agora içava o anão até o teto do convés da barcaça.
- Ar, seu covarde e
traiçoeiro merdinha do ... - Tholen esforçava-se para se libertar. Mas suas
injúrias não vinham à mente na mesma velocidade que as proferiam. O impostor
fez alguma troça em Wenhajin. Tholen desconhecia o idioma, mas reconhecia pelo
olhar triunfante o significado... E o fato da voz esganiçada quase gargarejar
cada sílaba estrangeira reforçava a ideia.
Como se não pudesse
estar pior, o wenhajin espalha um estranho pó sobre uma folha em "V",
e aponta para o anão. Em seguida, um sopro competente espalha a nuvem de poeira
sobre todo o rosto enfurecido do guerreiro. Seus olhos ardem ligeiramente, e o
forte cheiro entra por suas narinas.
- Hah! - bufa Tholen
provocando. - Chama isso de veneno?!? Eu já peidei coisas mais letais que isso!
- P... Pe-peido
mortal! - urra assombrado o impostor. O pó não era venenoso, mas sim um potente
anestésico. De qualquer forma, era impressionante o vigor da sua vítima para
não cair em torpor. Outro, que não um vigoroso anão, estaria fora de ação.
- Ah, então fala
minha língua, não é?!? - rosna furioso. - Pois então anote minhas palavras: O
enterro vai ser caixão fechado, viu? CAIXÃO FECHADO!
Aquilo não estava nos
planos do espião. Preferia a vítima desacordada. Não ousava tentar atacar sua
mente... Acreditara no que Hellen proclamou. Mas suas ilusões prévias
distrairiam curiosos. Mesmo se gritasse, Tholen não conseguiria alertar a
tripulação de sua ação.
Mas o Anão sequer
pensou em pedir ajuda. Não conseguia livrar os braços para alcançar suas
armas... Mas lembrou de um de seus pertences: A Bota do Pisão. Era um item
mágico que concentrava energias psíquicas. Uma vez acionada - ao todo, três
vezes por dia - um cone de cinco metros projetava onda de força pelo solo.
Tholen usava contra múltiplos oponentes ou para derrubar inimigos e objetos.
Mas desta vez, iria servir na vertical.
O casco externo e a
parede interna do saveiro vibram quando Tholen consegue um chute bem dado
gastando uma das cargas. A onda de choque atinge os mecanismos do teto,
fazendo-os, para a surpresa do falso Saisho, despencar já quase livre das
amarras.
Uma consequência
inesperada ao anão, no entanto, foi que a onda alcançasse o quarto de Nobunaga.
Com a vibração, o hatamoto e Hellen'ae são abruptamente separados, jogados um
em cada canto.
- Batemos em algo?!?
- exclama confuso Nobunaga.
- Não... - fala
Hellen, recompondo-se e cobrindo seu busto adequadamente. - Reconheço isso. Foi
Tholen.
- O que o capitão
fez?!?
- Ele não era um
capitão. Era uma isca... - confessa enfim. - Confio em meu amigo para duas
coisas: Se virar em situações arriscadas e sua capacidade de fazer barulho.
E os dois partem em
direção ao convés inferior.
(...)
Tholen estava
sorrindo. Ha algum tempo queria bater em um wenhajin destes... Sequer a
possibilidade de estar lidando com um impostor lhe ocorreu. O inimigo jamais se
moveu enquanto ele se levantava, com o Flagelo de Gelo já estava na mão.
Com perícia, o
martelo descreve um giro no ar e mergulha na direção do seu alvo. Acerta-o em
cheio, com peso e formando uma camada de gelo destrutiva no ponto de impacto...
Mas o som que ouve era impróprio... Era o som de metal contra madeira.
O que parecia ser um
corpo, mostra-se um boneco de tronco com as roupas da guarda vermelha.
Um vulto projetava-se
de trás do boneco no instante anterior ao golpe. Ele rola no ar, abrindo espaço
entre os dois lutadores. Ele vestia corselete verde com uma fishnete - uma
armadura similar à cota leve - por baixo. Seu corpo era tracejado de tatuagens
simulando listras de um tigre, e cabelos castanhos espetado completavam a
figura. Em sua testa, adornando as feições tradicionais wenhajins, uma pedra
losangular. Tholen estranha aquela cor... Recorda-se de ter espantado uma mosca
daquela coloração e tamanho quando discutiam com Nobunaga. Mas só via com sua
visão periférica.
- Ah, desgramado... -
resmunga o anão, adiantando-se lentamente a novo combate. - Era você que a
Hellen estava tentando desmascarar, não é?!? Você estava nos espiando o tempo
inteiro...
- Um po-porco
babarulhento que nem vovocê? - ri o espião. Seu melinês era carregado, e a
peculiaridade da fala contrastava com a confiança que seu olhar desafiador
transmitia. - Fa-fácil dema-mais para "Kyōju no itazura".
- Com-noju... - torce
o nariz Tholen. - Que merda de nome é esse?!?
- Me-mestre dos
T-trotes, seu o-oni incu-culto! - o espião saca um machadinho e uma kunai, uma
espécie de adaga metálica de lâmina larga, adequada tanto como ferramenta, arma
corpo-a-corpo e de arremesso. - Se-seu opoponente ago-gora é Yuuhi Midiri!
O intruso pontua
atirando a kunai contra o anão. Tholen não tem dificuldade em apará-la com o
escudo de ferro com cravos que trazia consigo. A arma fica atrelada em um
ornamento, e o desprezo do anão não podia ser maior contra o mínguo ataque do
oponente. Ele parecia uma criança nos padrões humanos. Estava certo que bastava
encostar nele que a luta estaria acabada.
Mas seu instinto
guerreiro o trai. Ele chega a sentir o cheiro de queimado, mas sequer cogitou
haver algum truque na kunai. Quando um discreto pavio acaba, ela explode. Era
uma bomba de pequeno poder, e o escudo absorveu quase toda a energia, mas a
fumaça e o barulho atordoam o anão.
- Mu-uito lento! -
Com agilidade invejável, Midori abre distância do anão, correndo na direção das
escadarias internas. Seu plano era forçar o barbudo inimigo a segui-lo e
continuamente cair em armadilhas. Até cogitava se sua suposta invulnerabilidade
a efeitos mentais seria um engodo também. Recorda que a fêmea sussurrou algo em
um idioma estranho... E martiriza-se por não ter atentado na ocasião.
Ouvia Tholen
recuperando o escudo e pegando velocidade. O plano parecia que iria
funcionar... Mas antes de chegar á escada, o ninja percebe que estava com a
passagem bloqueada. Nobunaga estava de pé lá, encarando-o com fúria, e as mãos
segurando no cabo de suas espadas familiares.
- Mu-muito rarápido.
- estanca a corrida. Sabia que Nobunaga era outro nível de lutador. Prefere dar
vez a correr na direção contrária.
O Samurai entende só
o suficiente do que precisava, e parte furioso, logo atrás, e não deixando a
desejar a velocidade do espião. Hellen sequer tenta acompanhar os dois. Foi
rápido demais para usar seus dons de sugestão em Midori... Mas tinha ao seu
lado uma janela boa o suficiente para conseguir passagem. Mesmo sendo uma que
desaguava para o mar sem acesso ao tombadilho...
Tholen sorri
maniacamente ao ver seu alvo correndo de volta, e olhando mais para trás - de
onde vinha o samurai - do que para frente. Assim, ele para no corredor,
ocupando o máximo de espaço possível, e erguendo o martelo acima da cabeça.
Quando Midori entrou em seu alcance, o anão desceu a arma num golpe mortal.
Mas ignorando
completamente, o jovem gago troca a postura de corrida por um deslizar. Pequeno,
ele passa entre as pernas do anão, surpreendendo-o, e esquivando do ataque, que
afunda no assoalho de madeira.
Tholen ainda estava
na inércia da martelada e curva-se completamente. Nobunaga não desacelera
também. Simplesmente salta sobre Tholen, apoiando uma mão às costas formes e
ligeiramente mais baixas do anão, e segue no encalço de sua preza.
- Eu ... Odeio...
Wenhajins... - resmunga o anão, frustrado. Somando sua velocidade
consideravelmente menor e o fato de não estar no embalo, jamais alcançaria
qualquer um dos dois. Mesmo assim parte na perseguição.
(...)
A segunda escada
ascendente era determinante na disputa entre o ninja e o samurai, equiparados
em velocidade. Eles venceram o primeiro piso sem problemas, mas a escada que
dava acesso ao deque superior era mais íngreme e apertada. O mínimo de atraso
que Midori tivesse o colocaria no alcance do dai-sho de Nobunaga. Sabia do
preparo da missão que aquele era um dos maiores mestres de Yaijutsu de Wen-ha,
e uma vez que sentisse confortável com o alcance, aquela lâmina seria projetada
da bainha com velocidade e precisão mortais.
Assim, o gago ousa.
Precisou saltar para permanecer na inércia, e fez os gestos de sua magia.
Aquele atraso reanima a sede de Nobunaga pelo combate... Mas aos seus olhos,
uma porta inesperadamente surge e fecha-se entre os dois. O samurai tenta
frear, mas corria a toda a velocidade, e o assoalho de madeira não dava atrito
o suficiente.
Sua providência
instintiva viu-se desnecessária. Atravessou aquela ilusão rápida com nenhum
dano exceto o coração ligeiramente acelerado. E sua frenagem deu a Midori a
vantagem que precisava.
Alcançou o convés com
um salto e guarda armada na defensiva. Olhou ao redor... Só viu três dos
membros da guarda vermelha... E todos o ignoravam completamente... Permitiu-se
sorrir triunfante. Foi desmascarado, mas não capturado...
E daquele dia em
diante, Yuuhi Midori jamais vai deixar a guarda aberta por um lado inesperado:
Em cima.
A sombra alada tardou
em denunciar o ataque de rapina. Sentia garras forçar o Fishnet por baixo de
suas roupas, e conseguia discernir na ilusão das mãos de Hellen sobre seus
ombros as protuberâncias ósseas da ponta dos dedos. Em segundos, estava sendo
carregado pelo ar.
A agitação chama a
atenção dos guardas no tombadilho. Nobunaga e Tholen enfim chegam, olhando
surpresos para os céus, a feiticeira com asas quirópteras vermelhas voando em
círculo com o jovem em seu poder.
- É me-melhor me
la-largar... - ameaça Midori. Ostentava o machado e uma kunai com um pavio
aceso em o que parecia ser uma tarja rúnica. Realmente não estava rendido
ainda.
- Quer mesmo que eu
te largue, jovenzinho? - fala com ironia na voz. - Olhe para baixo.
Midori se dá conta
que alcançava dezenas de metros em segundos. Mesmo caindo na água, seria um
baita tombo.
Enfim, ele sopra o
pavio, e leva as mãos á nuca.
- Eh... - Tholen
conversa desconfortável com o hatamoto. - Creio que quer saber das asas da
garota...
- Ela é uma
feiticeira formidável! - exclama assombrado.
- Bem... Que seja...
- rosna aliviado o anão. - quero ser o primeiro a dar um cascudo no pirralho.
(...)
Midori não se sentia
centro das atenções daquela forma ha muito tempo. Em um círculo maior, os
dezenove guardas vermelhos com armas desembainhados. Em um menor, os três que o
combateram. Hellen cuidadosamente amarrou as mãos, pés e braços do prisioneiro.
Apesar das ameaças, Tholen jamais agrediria um rendido... Bem, já o fez uma
vez, mas em regra não se valeria de deslealdade.
Nobunaga quem olhava
com certa satisfação. Em momentos de angústia, cogitou que os deuses-dragões
teriam expulsado-o das terras sagradas de Wen-ha. Um elemento externo
minimizava esta teoria.
- Fale,
prisioneiro... Se presa sua vida. - ameaça o hatamoto.
- Nobunaga-sama... -
Interrompe Hellen. Ela estava atrás do ninja, fiscalizando-o. Midori podia
ouvi-la, mas não vê-la. - Ele jamais diria a você quem o mandou.
O wenhajin estranha a
intervenção da feiticeira.
- Acredite... Eu sei
como fazê-lo falar.
- Creio que um homem
honrado como o hatamoto de Son-yohama não iria apelar para a tortura. Jamais o
jovem lhe dirá por que ele foi enviado aqui.
Midori sorri. Mas
quem gargalha mesmo é Tholen.
- Vocês estrangeiros
estão loucos?!? - exclama indignado. - Entendo suas ressalvas, mas não na
frente do prisioneiro!
- Ei, moleque... - Ri
o anão. - Você nunca iria pensar em um elefante...
- Um o-o que?!? -
estranha Midori. Tal animal era desconhecido em Wen-ha.
- Perdão, vossa
gloriosidade. - fala Tholen com deboche. - Conheço a moça ha muito tempo. Se
ela pede que não fale ou não pense... Já está cavoucando a mente da gente...
- Ouvindo pensamentos
superficiais, para ser mais precisa... - corrige Hellen. - É uma manobra
psicológica... Eu peguei “Tribo shinobi das Montanhas dos Quatro Rostos”.
Capitaneado por Yuuhi Renai. Estou certa?
Midori agita-se
assustado.
- Isso é
tra-tra-trapaça! - protesta. - N-n-não tem o Di-di-direito de fa-fa-...
- Calma, criança...
Midori, não? - fala quase maternal a feiticeira. - Imagino que com preparo,
você seria oponente mais que adequado com seus talentos. Mas o peguei com guarda
baixa... Como fez com Nobunaga-san por tanto tempo, não?
- Este marginalzinho
meia-pessoa... Ele quem amaldiçoou nossa embarcação?!?
- Na verdade, não. -
fala ela. - Embora talentoso, o nível de poder e descrição para uma persuasão
em larga escala está além do pequeno Midori. Mas infiltrado, atento a manobras
de despiste como a troca de embarcações, alguém na praia ... O “capitão Renai”,
mais precisamente... Eu nem imagino o poder necessário para esse feito.
- Eu já ouvi falar de
um guerreiro das terras do leste. Era tido como grandioso e generoso mesmo com
seus inimigos. - fala Nobunaga. - Mas se ele me escolheu como inimigo, por
qualquer motivo que seja, aprenderá que eu não sou tão virtuoso quanto ele.
- Por isso, seria
melhor ouvir o "por que". - adianta Hellen.
- Eh, se posso
sugerir... - fala Tholen. - Por mais que eu goste de confissões pessoais, o
desgramado gagueja tanto que a gente vai morrer de velhice se esperar seu
"de-de-depoimento". Entendo Que Hellen pescou tudo dessa cachola confusa...
Midori faz uma careta
e desvia o olhar. Hellen observa com interesse, e dá razão a seu aliado.
- Nobunaga-sama... O
senhor mencionou que era um homem casado, não? Quando eu fui a seus aposentos
A indiscrição
visivelmente constrangia o samurai. Mas ele assenta com a cabeça.
- Percebi que honra
seus votos e sua esposa... Mas o que pensa de seu sogro... Usagi Heyo,
vulgarmente chamado de "Coelho Gordo", imagino...
- Não tenho o que
pensar dele. É meu sogro. pai de minha mulher. É o que importa.
- Não há laços
sanguíneos entre vocês. - fala Hellen. - Não pensaríamos menos se confessasse
que seu “sogro coelho” é um tirano com seus servos, e um vizinho complicado aos
daimatos menores ao redor dele.
- Não me cabe julgar.
- insiste o espadachim.
Hellen temia que
houvesse alguma ressalva moral de Nobunaga pelo parente legal. Mas felizmente
havia a neutralidade necessária.
- Sei que ele teve
muitas filhas, e com elas, conseguiu casamentos vantajosos. Especialmente com o
hatamoto. Com tal poder, ele pode ameaçar os daimatos vizinhos, tomando-lhes
terras e gado, certo que possuía armas ao seu lado o bastante para rechaçar seus
inimigos...
-
I-i-individualmente. - acrescenta Midori, mas sem encarar a feiticeira ou o
hatamoto.
- Uma aliança foi
feita. - continua Hellen, após uma respeitável pausa. - Todos os prejudicados
pelo “Coelho Gordo” juntaram-se em uma armada capaz de lutar com chances de
vitória contra o vilão e seus samurais. Ao menos, com o que ele poderia
bancar...
- Como genro... -
deduz Nobunaga. - Eu e meus homens teríamos laços para prestar auxílio.
- Juntando-se suas
forças com as dele, a aliança não teria grandes chances de fazer justiça. Se
considerar que como hatamoto, a guarda do próprio Shogun poderia segui-lo... Os
revoltosos seriam massacrados.
- Então, mandam o
pivete para matar o general. Cortar uma das maiores forças armadas vassalas ao
“coelho”?
- Co-cogitaram o
assa-ssa-sinato. - defendia subitamente Midori. - E a A-a-aliança veio a
miminha vi-vila bu-buscar agente ca-ca-apases. M-Mas a-achamos he-hedionda
e-e-essa ssosolução.
- Yuuhi Renai. Um
mestre mental da aldeia, decidiu cortar comunicações entre Usagi e Nobunaga. A
viagem foi conveniente. - adianta Hellen. - Mas afastar o navio era uma solução
temporária... E era questão de tempo até o hatamoto buscar outros meios para
chegar a seu lar. Daí, o espião infiltrado. Midori alertava seus líderes de
manobras como trocar de navios. Devo deduzir que ele foi além do dever quando
suspeitou que Tholen fosse imune à persuasão de Renai, e tentou separá-lo da
comitiva. E Eis toda a história, "glorioso".
Nobunaga vira as
costas ao grupo interno. Encara Akashi e seus guardas. Parecia pensativo. Fala
enfim, com a voz dura.
- Mas devo crer que mesmo sem ter mais o espião, Yuuhi Renai
permanecerá afastando meus navios de minha terra natal...
- E-enquanto
peperdurar a g-guerra de Usagi. - pontua o gago.
- Mesmo se eu tiver
uma moeda de troca? - fala enfim. - O valioso filho deles?
Midori prende a
respiração tenso.
- Renai não acredita
que a vida de um soldado valha qualquer missão. - adianta Hellen, pescando mais
um pensamento fugitivo da mente do gago. - O fato de ser o filho dele só
reforça este entendimento.
Nobunaga volta-se
firme ao centro do grupo. - Então, eu venci. - proclama enfim. - Prisioneiro,
não sei como vocês se comunicam, mas mande seu pai deixar a costa de Wen-ha e
abandonar sua vigília. E faça-o prometer que jamais ousará ficar entre Geen
Nobunaga e sua terra natal.
- N-não.
Midori se posta firme
contra o samurai.
- Me deixe colocar em
termos que entenda... - Fala severamente. - Se esta ofensa continuar... O que
eu farei com o prisioneiro é o menor dos problemas dele e de sua aldeia. Que se
dane meu sogro e a aliança. Eu retornarei um dia... Com ou sem Renai. E não
irei ao descanso eterno enquanto não encontrar seu pai, sua aldeia, e todos os
que me afrontaram. E os colocarei por terra. Apagarei da história. Eu juro
perante o deus dragão Verde... Perante todos os cinco deuses... E os inúmeros
deuses gajins. Agora, criança... Vai enviar minhas condições ao seu pai?
Midori encara o
imponente general, mas sua consciência pesa. Tinha orgulho de sua terra natal,
e acreditava que as promessas daquele homem amargurado não seriam concluídas...
Mas ele era poderoso o bastante para levar conflito aos seus colegas. Haverá
guerra. Haverá mortes. Independente do desfecho.
- Eu... S-só
prepreciso estar pe-pe-perto o susuficiente da co-costa papara enviar a
memensagem. - fala enfim. - Eu f-farei o que diz.
- Que treta você nos
meteu desta vez, Hellen... - sussurra Tholen.
- Pss... - repreende
a feiticeira. - Não acabou.
Nobunaga corrige sua
postura.
- Entendo porque seu
pai não precisa decidir pela vida ou morte de seus enviados. - fala enfim. - Eles
mesmos quem decidem se suas vidas e suas missões são importantes ou não. Chego
a invejar tais seguidores... - O assunto parecia resolvido. Passou a tratar de
arrumar seu kimono, desalinhado com a correria poucos instantes atrás. -
Recomende que seu patriarca arranje alhures atividade para passar seu tempo.
Creio que alguém capaz de afastar os inimigos deve ser útil na frente da guerra
contra Usagi-sama.
Midori se espanta.
- O se-senhor n-não
vai i-i-interferir na g-g-guerra?
- Eu serei obrigado...
Se contatado por meu sogro. Mas no estrangeiro, posso ficar incomunicável por semanas... meses até. - O hatamoto encara Hellen por alguns instantes. -
Não faço juízo contra meu sogro, mas não sou cego à política de meu reino,
senhorita Hellen'ae. Se não há mais força sobrenatural me exilando de meu
lar... Isso me basta. Terão minha eterna gratidão.
(...)
Midori não era o
único agente da aldeia além da fronteira de Wen-ha. mas os demais eram meros
carteiros. Mas eram ágeis o bastante para alertar o Honrado líder da tribo que
haveria uma última tentativa de Nobunaga alcançar as Terras de Wen-ha. E como
tal, estava a postos no porto de desembarque. E como sempre, a guerreira estava
ao seu lado.
A gema na testa de
Midori, o presente de sua mãe, mais uma vez vence as distâncias e aproxima-se
da margem. Aquilo era estranho... Pois Midori adiantou-se ao barco. Podia ser
uma mudança de curso, ou alguma manobra dissimulada. O tempo para deslocamento
era essencial, pois uma vez ancorados, Nobunaga e a guarda vermelha não
retornariam ao mar.
Mas a mensagem do
"Mestre dos Trotes" era outra. Sua descoberta, e a decisão de
Nobunaga ... A intervenção dos novos heróis. Com seus talentos únicos, o Líder
de campo coçou os bigodes, revivendo os apuros que seu filho passou.
- Renai? - interrompe
Inagami. - Está calado ha tempo demais... O que aconteceu?
- Creio que... Podemos
interromper nossa vigília mais cedo. - pronuncia enfim. - Você vai ter mais um
motivo para se orgulhar de seu filho...
(...)
- Venha com a gente.
Tholen ficou mais
surpreso do que o próprio Nobunaga. com o súbito convite da feiticeira. Ancoraram
desta vez no Porto Real de Habênia, e o Ronshi - uma escuna elegante wenhajin -
estava aguardando o regresso dos seus senhores. O capitão do saveiro foi pago e
liberado, enquanto a guarda transportava a carga entre as duas naves. Tholen e
Hellen aguardavam um momento em que Nobunaga estivesse liberado da negociação e
preparativos.
- Ir com vocês.... -
segue Nobunaga tentando entender o pensamento da mulher.
- Eu e Tholen estamos
rumando para Oeste. Até o reino de Lyon. Condado de Katzophlis. Será uma
jornada de pelo menos dois meses às margens do Rio Janar. Se você ficar na
Doravânia ou navegar pelos portos de Meliny, não poderá negar uma carta de
Usagi exigindo sua presença na guerra... Mas andarilhos são imprevisíveis.
Nosso grupo recentemente foi reduzido... Poderíamos usar um par de espadas...
Ou um ladino...
Hellen desvia o olhar
para Midori.
- Ei! - protesta
Tholen. - O moleque é um prisioneiro, não um aliado.
- Refém político. -
continua Hellen. - Ele é a garantia que Nobunaga tem do fim da
"maldição" de Renai. Acredita mesmo que cordas e novatos da guarda
vermelha iriam deter um ninja?
- S-só estou
e-e-esperando vo-vocês dodormirem... - fala o gago, em desafio.
- Com todo o
respeito, senhorita... - fala o hatamoto. - Minha ausência do reino é
tolerada... Mas como apontou bem, a vida de aventuras é perigosa. Porque eu, na
altura em que estou minha vida, faria uma coisa dessas?
- Você não é velho
ainda, Nobunaga-sama. - insiste Hellen'ae. - Sei que o dragão tem ânsia de
sacar as armas, não viajar em balsas com pessoas a lutarem em seu nome.
- Esqueça, Hellen. -
rosna Tholen. - Ele não tem nem os colhões nem a necessidade de do ouro.
-
"Colhões"...? - estranha o Wenhajin. Ainda mais ao ver Midori
gargalhando.
- É um... Uma forma
vulgar de se referir à coragem.- traduz a feiticeira
- Deduzi. - Emenda o
espadachim. - Pois saiba que quando refinava minha arte, me passava por
andarilho ronin para não ser incomodado ou ter de lidar com tratamento
individualizado.
- ... E ainda assim
não aprendeu a rimar... - goza Tholen.
- Referi-me á arte da
espada! - o rosto de Nobunaga ficava vermelho de afrontado. - Está decidido! Eu
vou com vocês.
- O que?!? - exclama
em uníssono Tholen e Midori.
- De Lyon ou de
Genesa consigo naus velozes de volta ao reino em um décimo desse tempo. Se não
concluírem a guerra a meu sogro neste ínterim, não será mais problema meu.
Caminhei por todos os cantos de Wen-ha... Quero andar pelo resto do mundo
agora. E vai ser da forma tradicional. Sei que tenho meu velho sombreiro e a
armadura de viagens.
- Ei! - protesta
Midori. - E qu-quanto a mim?!?
- Eu sou seu captor.
- fala Nobunaga, já partindo para o interior da embarcação. - Onde eu for,
prisioneiro vai!
Hellen aplaudia
freneticamente seu sucesso. Em seu íntimo, a aliança com Geen Nobunaga era o
ideal para seus planos em longo prazo. Mas Tholen demonstra preocupações.
- Você não vai
esconder dele por muito mais tempo... - fala o anão, em seu idioma nativo,
certo que apenas Hellen entendia dentre os presentes.
- Eu conquistarei a
confiança dele... Como conquistei a sua. E a de Gunter e Nindrille. - fala ela
animada. Igualmente em Anão.
- Não que eu queira
acusar... - insiste. - Ele já falou que é casado. Se está com isso em mente ...
Tire o cavalinho da chuva!
- Oh, Tholen... - ri
a feiticeira. - Não sabe que samurais costumam a ter concubinas? Algumas
escolhidas pela esposa inclusive! Creio que eu posso ser amiga da
"coelhinha"!
Tholen encara o
infante Midori. Ele olhava confuso.
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