quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Ventaval - Um desabafo digno do Saramago

Vendaval é um fenômeno. Fenômeno da língua portuguesa: Como uma palavra cuja raíz é "vento" se torna "vendaval" em vez de "Ventaval"?

Eu lembro quando descobri essa palavra na Primeira Série. Eu já tinha ouvido falar na expressão mas por um evento de pareidolia entendia "VenTaval", até que usei em um dever de casa. A Tia circulou de vermelho o "T" e baixou minha nota. Quem me conhece sabe que minha letra é meio garranchuda - e com "meio" quer dizer graças a deus existe o teclado! - então achei que a Tia... Bem, a Professora, entendeu outra letra. Talvez um "D"! Que absurdo, né?

Teve então um segundo dever de casa, no qual eu caprichei nos meus "T"s para mostrar que aprendi a lição. No finalzinho da lição até empurrei a palavra "Ventaval"... Com um T muito bonito, elegante, com corte vertical claro mas não exagerado, e bom distanciamento das demais letras.

Mas ela cortou DE NOVO o "T". Mas desta vez só do "ventaval".

- Tia, faz o favor. - Falei chamando a atenção. - A senhora não entendeu isso aqui?

Ela olha e diz:

- Não. Entendi sim. Está errado.

- Mas isso aquí é um "T".

- Eu sei.

Coçei minha jovem e confusa cabeça.

- Então o que está errado?

- É "Vendaval". O correto é com "D"

- Não, não é. - falei na bucha. Não fazia sentido! Sequer hesitei em corrigir a profissional de ensino que deveria ter uns 80 anos a mais que eu.

 Minhas memórias da continuação da prosopopéia são vagas, mas tenho certeza que não saí convencido. Eu sei porque mesmo hoje, segundo grau completo, dois níveis superiores, e usando a palavra escrita (bem, teclada) como instrumento de trabalho, não me conformo que os Romanos, os Piriepos e os Portugueses tenham colocado um "D" no derivado de "Vento". Ainda mais com tantas outras formas usando um "T".

 ♪Vento ventania, me leve para as portas do céu...♫

Se tem muito mato, você tem um MATAGAL ou um MADAGAL?

 Bem, eu não errei no título, caso alguém queira me corrigir. Considero mais uma das aberrações da língua portuguesa. Tal qual o "s" com som de "z". Mesmo hoje eu preciso parar e avaliar - ou mesmo apelar para o corretor ortográfico - ante palavras como Empresa, Crise e Talves Talvez.

PS: Tive um problema semelhante com o "muito". Em outro dever, a Tia circulou uma consoante no meio da palavra.

- Ah, não! - revoltei-me. - Vai me dizer que "muinto" é com "M" no meio, não vai?

Ela olha para mim horrorizada.

- Nem com "m" nem com "n". Não tem nada entre o "U" e o "I"

- Como assim? É "muito"?!?

- É!

- "Muy"... "tóh"?!? - insisto incrédulo, com longa pausa silábica.

- Sim.

- Mas se pronuncia "Muinto"!

- Mas se escreve "muito".

Então, chorando com sinceridade, eu disse:

- Tia... Posso substituir o "ventaval" por "ventania", mas "Muinto" eu uso direto! Não me faz isso! Não tire o "muinto" de mim!

Hoje, faço como o D'zilla: Uso "DEVERAS"!

2 comentários:

  1. Encontrei um livro deveras antigo de Direito que contém a maioria das idiossincrasias linguísticas de nosso amigo Hardman... ora, então elas nem sempre foram consideradas erros idiomáticos!

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  2. No primário tive dificuldades com um aspecto relativo ao sotaque daqui: o uso de um ou dois "erres" que me persegue na pronuncia ate hoje (nao sei se devido a origem italiana, ou a mistura com a alemã, aqui as pessoas nao diferenciam na pronuncia palavras como aranha e arranha, ou caro e carro, e tudo a mesma coisa ao se ouvir).

    Felizmente consegui vencer em partes esse probleminha heuheu

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