terça-feira, 15 de maio de 2012

"Ser Mestre é padecer no paraíso - II"


- Eis que com a batalha encerrada, vocês têm de escolher um dos dois caminhos, direita ou esquerda, da Dungeon dos Uivos perdidos.

 - Eu quero ir atrás do vilão! 
- Eu imaginei... Mas ele estava voando e vocês não voam. 
- Eu vou lançar um encantamento de levitação para voar! 
- Você tinha sete encantamentos de levitação. Usou para levantar as rochas que obstruíam o caminho da caverna e depois para
levitar as rochas para arremessar nos vilões. 
- Então... Só usei duas! 
- Eram três rochas que você levitou na porta. Depois, mais quatro rochas para arremessar no vilão.  
- Mas meu encantamento atinge múltiplos alvos! 
- Não, não atinge. 
- Quem disse?
 - Bem, todas as mídias conhecidas pelo universo, o livro de regras, a lógica... Mas o mais importante desses todos: O narrador.
- Mestre... Olhe a pressão!
- Okey... vou me acalmar. Não quero voltar para a clínica. 
- Mas eu ainda acho que deveria ter mais feitiços de levitação. 
- Foram sete rochas! Gastou sete feitiços!
- Mas as quatro que eu levitei para jogar nos bichos no encontro aleatório não tive oportunidade de jogar!
 - Claro! Porque você gastou quatro turnos para lançar o feitiço. Ao invés de lançar em uma e depois arremessá-la contra um alvo e só depois partir para outro, você ficou levitando todas as rochas que podia! 
- Mestre...
- ... E ainda queria levantar CINCO! 
- Olha a pressão!
- ... E se você se recordar, eram só três os vilões.
- Tá! Ele não tem mais magias de levitação! Ficou defeso isso!
- Bom.
- Hmp... Eu tinha um feitiço de mover pedras. Poderia ter movido pedras se eu quisesse...
- Galera, peguem leve com o narrador! A saúde dele está debilitada.
- Certo. Onde estamos mesmo? Na encruzilhada... 
- Ainda? Estamos nessa encruzilhada faz meia hora!
 - Por mim eu já estava em casa, mas para vencer a encruzilhada, vocês tem de optar por ir pela direita ou pela esquerda.
- Se acabaram meus feitiços de levitação, quais me restam? 
- Bem... Os de transformações infinitas.
- E quantas me restam? 
- São infinitas! Nunca acabam.
- Beleza! Vou me transformar num rato! 
- Hmm... boa! Você tem os sentidos de um rato agora. Sente pelo olfato que o caminho da esquerda é o mais usado.
- Ei! Eu não disse que ia fazer isso!
 - Eh... Tá... Mas você sente isso.
- Agora me transformo num rinoceronte!
 - Hãã... por quê?
- Porque rinoceronte é melhor para a briga que um rato! 
- Não tem briga agora.
- A-ha! "Agora"! Quer dizer que terá briga mais na frente! Vire um rinoceronte mesmo!
 - "Uff" certo. Você se transformou num rinoceronte.
- Ele pode me ajudar a ir atrás do vilão que fugiu voando? 
- Olha, em off, mas valendo aqui: O vilão que fugiu ultrapassa a velocidade do som e tem inúmeros esconderijos pelo mundo. E em on, eu pretendo usar mais á frente na campanha. Já o botão de autodestruição, que está na passagem da esquerda, tem um timer que está perigosamente perto do fim, que precisa ser apertado agora. 
- Como vamos confiar que a Esquerda é a saída? 
- O rato farejou.
- Mas ele é um rinoceronte. Ele nunca se destransformou. ratos não falam e Rinocerontes não farejam!
 - Eu estou dizendo!
- Mas foi em off. Não vale. 
- Ah, lembrei de uma coisa. Tem um mapa.
- Um mapa?
- Sim, na parede. Mostra do lado esquerdo um caminho reto para uma sala escrita "sala do botão de autodestruição", e ha várias outras salas escritas "armadilha mortal" "Caminho inútil" e "morte instantânea"!
- Eu vou me transformar numa ave que possa voar e ir atrás do vilão. 
- Okey... qual ave?
- Quais aves eu posso me transformar? 
- Qualquer ave que exista na nossa fauna.
- Alguma delas voa com pessoas adultas? 
- Não. Não existe isso.
- Posso me transformar numa versão maior de uma ave, o bastante para voar com ele? 
- Eu já pedi que esquecesse o vilão!
- Mas o cara vai ser uma ameaça em longo prazo! Você falou!
 - Mas foi em OFF!
- E daí? É RPG! Não somos limitados a ir para a direita ou para a esquerda! Quero voar atrás do cara! 
- Okey, você pode. mas não pode carregar o seu colega.
- Mas minhas transformações são infinitas! 
- ...Mas não ilimitadas!
- Posso me transformar em um dragão?
 - Não, você não pode. Dragões não existem.
- Mas enfrentamos um ontem!
 - Foi num cenário de fantasia, onde dragões existem! E COM OUTRO MESTRE!
- Mas já mata seu argumento que dragões não existem.
 - Quer saber? Querem ir atrás do vilão? Ele surge aí. Ele esqueceu as chaves do esconderijo secreto e voltou para pegá-las! Eis sua chance de bater nele e poder seguir para a passagem da esquerda!
- Ué? Não queria poupá-lo para usar depois?
- Mudei de idéia.
- Mas e a campanha?
- Digo que ele era peão de outro, um irmão gêmeo que vai seguir com os planos de onde o irmão parou.
- Bem, agora vou matar ele.
- Peraí... melhor capturarmos para usarmos contra o irmão gêmeo dele!
- AIMEUPAI! Vocês não sabem do irmão!
- Como não? Você acabou de falar! 
- FOI EM OFF!
- Mestre... olha a pressão!
- Eu tô me enchendo com esses "olha a pressão"! Seu personagem tá aí faz horas e não fez nada! Entra no jogo!
- Ih, sobrou para mim foi?
- Vou me transformar numa cafeteira! 
- Eh, o que?
- Transformações infinitas me permite transformar em objetos inanimados. Eu me transformo numa cafeteira, e aí ele que quer prender o cara me arremessa nele.
 - E porque não se transforma numa arma de arremesso? Melhor: Agora aproveite que se transformou em um rinoceronte!
- Porque ele não esperaria ser atacado por uma cafeteira! 
- Eh, não posso argumentar com esta lógica.
- Eu arremesso a cafeteira.
 - Okey. Ele tomou uma... "cafeteirada" ... na cabeça. Isso o machuca e queima. Ele então percebe que está lá e começa a tentar voar de novo.
- Como ele sobreviveu à cafeteira? 
- É ... Um objeto pequeno e não-apropriado para ser usado como arma. Não é o suficiente para derrubar um vilão como esse.
- Mas cafeteira não são pequenas! E aquela do hospital? 
- Aquela ... Ah, é uma máquina de café! não uma cafeteira!
- Eu estava pensando naquela!
- Não, pense numa cafeteira industrial da Nestlé! Deve ser do tamanho de uma casa!
 - Você não pode mudar a ação após ter agido! E... Como é que você sabe que existe cafeteiras do tamanho de uma casa na Nestlé?
- Pô! É a NESTLÉ! Deve ser assim! 
 - Uma cafeteira do tamanho de uma casa aparece. O outro herói não consegue ergue-la, e chama a atenção do vilão. Ele vai embora.
- Eu sigo. 
- Ele voa e... Okey, ele decidiu fugir a pé. Está a seu alcance.
- Eu volto para ver a encruzilhada de novo. 
- MAS ... MAS... 
- Mestre... olha a pressão...
- Okey. Voltando à encruzilhada... 
- Eu me transformo em um clone. 
- Eh... Sei que vou me arrepender de perguntar, mas porque um clone?
- Eu tenho um plano. E eu devo poder me transformar em um clone, ou não? 
- Poder pode... Mas clone de que?
- De... Mim... Mesmo! 
- Mas você já é você mesmo!
- Mas quero virar um clone meu! 
- ooookey. Aos olhos de vocês o mago transformista volta ao normal, mas na verdade, ele é um clone de si mesmo.
- Legal! Agora sou duas pessoas! 
- Hãã... não, não é não.
- Pense comigo: Se eu sou um clone meu quer dizer que há um "eu" de quem eu deveria ser clonado, logo, somos duas pessoas! 
- Mas não surge uma pessoa só porque
- Clone o seu clone infinitamente e você dá aquele golpe de Naruto!
 - Do que está falando? Eu não assisto. O que...
- Boa idéia! Clone a mim também que aí todos nós seremos um exército!
- Meu pai Eterno! Isso não vai funcionar!
- Só sabemos se tentarmos! 
- Okey, okey. Vocês tentam e não funciona. 
- Eu acho que ainda dá para perseguir aquele vilão fujão... 
- Galera... A montanha explodiu.
- Como?
 - Tô olhando meu relógio aqui e vi que a montanha explodiu. Vocês não detiveram o contador a tempo.
- Pera lá... a gente não passaria tanto tempo assim sem agir...
- Não passariam, mas passaram. 
- Qualé mestre. Aí é apelação! Não nos deu uma chance!
 - Ta certo... Foi só um, sei lá, um teaser do próximo filme-catástrofe que vai estreiar.
- É o 2012? 
- Deve ser. Não me importo mais.
- O 2012 não é porque já estreiou ontem.
- De onde veio a TV com esse teaser?
- Era onde mostrava o mapa... Ele dá refresh com teasers.

- Esse filme parece bom? 
- Eu juro que estava zoando quando falei... Mas , okey, é o melhor.
 A gente deveria assistir. 
- Como? Agora?
- Não tem uma cidade por perto?
- Sim, aquela que vai explodir se vocês não entrarem na passagem da esquerda, coisa de meio metro de vocês, e apertarem o botão de autodestruição!
- Acho que dá tempo... Tínhamos uma hora! 
- Sim, quando começou a partida! Isso inclui toda a palhaçada de jogar pedras com feitiço de levitação, perseguir o vilão, desistir de perseguir, o vilão chegar, transformar em uma cafeteira gigante, perseguir o vilão de novo, desistir da perseguição. Inclua aí o deslocamento até a cidade, e mais DUAS HORAS DE FILME!
- E os trailers.
- Sim... E os trailers.
- Sei não. Ainda acho que dá tempo. 
- Pessoal! Só o filme tem duas horas! O DOBRO do tempo que vocês acham que tinha!
- Nunca vamos saber se não tentar, não é?
 - Okey... Filme então. Vocês viajam uma hora inteira desde o coração do labirinto até o cinema da cidade... Mas dá tempo.
- Er, mestre... tá escorrendo sangue do seu nariz. 
- O filme é muito belo. Tem borboletas e flores coloridas para todo o lado.
- pessoal, ele tá com um olhar perdido.
- Daí começam as explosões, a adrenalina! O Mocinho e suas façanhas incríveis.
- Eu... vou ligar para a ambulância. 
- E aí chega o vilão do filme.
- Eu me transformo num alienígena!

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