quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Dr. Hardman e o Heavy Metal

Quando eu era criança, meus pais compraram nosso primeiro tocador de CD. Era a "tecnologia do futuro" chegando em nossa casa, com pilhas de discos dos '70 e '80.

Mas por muito tempo só tivemos três "cedês": dois dos Beatles (A Hard Day's Night e Yellow Submarine. Até hoje uso "Hey Bulldog" como trilha de terror urbano) e um do melhor de Paul Simon e Grafunkel.

Não me lembro de meu pai ser particularmente fã dele. Mas eu adorei - talvez por ser vinculado a essa tecnologia inovadora e falta de opção. Gostava também dos Beatles, mas à medida que aprendia inglês cometi o erro de traduzir as letras. Beatles, no seu contexto, é um breguinha com uma balada melhor. Mas Simon & Grafunkel (S&G para resumir) tinham letras poéticas, contavam histórias e faziam jogos de palavras (em "El Condor Passa).

E então, eu ia para a escola, não raramente com alguma das músicas na mente. Era uma época feliz, e eu cantarolava uma delas. Nesse fatídico dia, eu estava cantarolando "The Boxer". Minha professora de História, Sheyla, flagrou. Então me perguntou: "Você é fã da Roberta Miranda, Leonardo?"

Isso se espalhou. De um adorador de tecnologia e de S&G, recem-introduzido ao idioma anglo-saxão, era fã da rainha dos caminhoneiros. Era mais duro justificar na época pois a mania de "embregar" músicas clássicas em inglês era novidade.

 É o equivalente hoje se vocês me flagrassem escutando Fresno. (talvez menos emasculado).

Vai ver que por isso me desenvolvi tardiamente como apreciador de música. Não ia a shows quando era mais novo (mesmo hoje em dia resisto muito a ir). Mas meu relógio biológico se aproximava da adolescência rebelde. Cedo ou tarde iria começas a ouvir Heavy Metal.

Mesmo hoje em dia eu curto quando tem mais melodia, a letra tenha algum trabalho. Não me visto de preto, não uso espigões e correntes (fora de live actions), nem berro inaudivelmente preces indecifráveis a Chutullu. Mas o incidente S&G se repetiu pelo menos duas vezes:

1 - Uma vez, de carona com meu irmão para a faculdade, ele toca uma fita do MANOWAR. "The power of Ty Sword", "Carry On", "kings of metal", "The demon Wimp"... Era o equivalente musical a um baita filme de ação!
 Copiei a fita e ouvia sempre que podia. Mas aí passei a comentar aos meus amigos mais descolados que tinha me tornado fã desses caras!
 Devia ter percebido risadas contidas. A internet não era tão acessível assim, e fui pesquisar sobre eles. Vi de cara a capa, o grupo de bombadonas em sungas de couro.
 Encolhi-me na cadeira de vergonha. Desta vez nem poderia alegar que perverteram meus ídolos como Roberta Miranda fez com S&G. Mas é que nem o Twister Sisters: ouça e ignorem que se trata de, como disse o @azaghâl: Travecos medievais from hell!

2 - Já na época de Meliny, quando escrevi a trilogia "O Demônio Interior", eu tinha já na mente a trilha sonora: ANGRA e SHAMAN!
 Como de costume, eu adquiri o CD sem saber quem era. Fiquei surpreso de saber que era uma banda de Heavy Metal brasileira que não devia nada às estrangeiras. Na capa não mostrava nenhum dos integrantes, mas perguntei a meu irmão se eram algum traveco do metal ou coisa que pudesse me constranger no futuro. Ele disse que não. Acho que me tranqüilizei, porque isso bastou.
 Meu irmão se profissionalizou envolvendo-se com shows (Começou com o lendário Punka, depois o Coverama, o Derrota Fantasy...) e ficou envolvido com um evento: trazer o Shaman a Aracaju!
 Eu ainda era muito careta na época, optei por "ficar na beirada" e conseguiria entrar sem dificuldades. Mesmo se não o fosse, poderia pagar meu ingresso. Nunca fui tiete. Mas queria aproveitar essa oportunidade única, com a discrição que meu caretismo permitia.
 Estávamos reformando a casa na época, e a família estava hospedada numa pousada. 5 pessoas num flat para 2 era meio favelão, e usávamos a área comum para tudo. Eis que encontro meu irmão falando com um jovem alto, magrelo, cabelo enrolado, óculos. Ele chega e diz: Leo, esse é o André Matos, daquela banda que você gosta.
 Eu revejo mentalmente a cena e ainda me irrito comigo mesmo. Aquele era o visual anti-metal! Mesmo sem nunca ter visto o ilustre (não aprendi com o incidente anterior), era para suspeitar. Mas sei lá, não queria parecer um careta que não conhece seus gostos. Cumprimentei e enfatizei que era fã mesmo. Falei até da Carry On, minha favorita (e coincidentemente o Manowar tem uma música honônima. Era o destino).
 E lá se vão os dois a rir de mim.

 Tá, conheci a banda e paguei uma coca-cola pro verdadeiro André Matos na tarde de autógrafos no Jardins.
 Foi uma pena que o show foi muito mal divulgado e não deu muita gente... Mas pensando bem foi melhor assim, já que os "cabelos-de-chicote" se concentraram num canto do palco e eu vi ao vivo um show quase particular. Inclusive a Carry On, que o público insistiu.

Well, O Derrota vem aí, e eu fiquei de acompanhar o Massacration. Vou memorizar os nomes e rostos da trupe. Chega de metal-mico!

PS: agora que fiz a revisão acho que este texto é um novo mico. Sei que vou me arrepender ao clicar "Save & Publish" Mas dane-se.

8 comentários:

  1. Vai olhando algumas letras para cantar junto.
    Não se esqueça, Metal is the Law!!!

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  2. S&G é bão =]
    Tbm ouvia quando muleque um CD de coletanea deles.

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  3. Esquecer não esqueci... só não vai ser meu departamento.

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  4. Tem coisas que só a música faz por você haha =)

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  5. Bem, eu fiquei adoentado na semana antes e passaram meu trabalho para outro. Mas cheguei a cumprimentar a banda nos camarins e assistir de camarote ao show.

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  6. Eles são iguaizinhos ao que você imaginava, não é?

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